Page 606 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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agora por esse lugar macio e sonolento. E muito triste, mas de uma tristeza
que traz quietude, como certas músicas suaves.
Passaram por dezenas de animais esquisitos estendidos sobre a relva,
mortos ou adormecidos. Muitos lembravam dragões e morcegos, mas
Brejeiro não sabia distingui-los.
– Esses bichos são daqui mesmo? – Eustáquio perguntou ao
guardião. Este mostrou-se muito surpreso por lhe terem dirigido a palavra,
mas respondeu:
– Não. São bichos que chegaram aqui através de abismos e grutas,
vindos do Mundo de Cima para o Reino Profundo. Muitos descem até cá,
mas poucos retornam às terras ensolaradas. Dizem que todos despertarão ao
final do mundo.
Ao dizer isso, sua boca selou-se; no grande silêncio da gruta, as
crianças sentiram que não teriam a audácia de falar outra vez. Os pé
descalços dos anões, palmilhando o musgo espesso, não faziam o menor
ruído. Os estranhos animais não produziam o menor som ao respirar.
Depois de terem andado vários quilômetros, chegaram a uma parede
de pedra com um arco que dava para uma outra gruta. Mas era bem melhor
do que a última entrada. Penetraram numa caverna menor, comprida e
estreita, com a mesma forma e o mesmo tamanho de uma catedral. Aí,
tomando quase todo o espaço, estava um homem imenso a dormir
profundamente. Era muito maior do que qualquer um dos gigantes, mas o
rosto não era igual ao dos gigantes: era nobre e belo. Seu peito arfava um
pouco sob a barba de neve que o cobria até a cintura. Uma luz prateada
(ninguém viu de onde vinha) caía sobre ele.
– Quem é este? – perguntou Brejeiro. Havia tanto tempo que
ninguém dizia uma palavra, que Jill ficou a imaginar como ele tivera
coragem.
– Este é o velho Pai Tempo, que já foi rei do Mundo de Cima –
respondeu o guardião. – Agora está mergulhado aqui no Reino Profundo,
sonhando com as coisas que são feitas no mundo superior. Muitos caem
aqui, mas poucos retornam às terras ensolaradas. Dizem que despertará no
fim do mundo.
Passaram em seguida a uma outra gruta, depois a uma outra, e outra,
tantas que Jill perdeu a conta, mas sempre descendo. E cada gruta era mais
baixa que a precedente, até que só de pensarem no peso e na profundidade
da terra acima deles sentiam-se sufocados.
Chegaram finalmente a um lugar no qual o guardião ordenou que o
varapau de luz fosse de novo aceso. Entraram numa gruta tão larga e escura
que nada podiam enxergar, a não ser, à direita, uma pálida faixa de areia