Page 609 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Minha  Alteza  gosta  antes  de  tudo  de  ser  obedecido,  seu  velho
                  resmungão. Traga-os imediatamente.

                         Mulungu  balançou  a  cabeça,  fez  um  sinal  para  que  os  três  o
                  seguissem,  e  começaram  a  subir.  A  cada  degrau  a  intensidade  da  luz
                  aumentava, mostrando reflexos dourados através de delicadas cortinas no
                  alto da escada. Os terrícolas abriram as cortinas e se colocaram dos lados.
                  Os  três  entraram.  Acharam-se  numa  bela  sala,  ricamente  atapetada,  com
                  uma  lareira  crepitante  e  uma  mesa  onde  reluziam  uma  garrafa  de  vinho
                  vermelho  e  cristais.  Um  jovem  de  cabelos  louros  levantou-se  para
                  cumprimentá-los.  Era  de  bonita  aparência  e  parecia  ao  mesmo  tempo
                  destemido  e  bom,  embora  algo  em  sua  expressão  revelasse  que  havia
                  alguma coisa errada. Vestia-se de preto.

                         – Bem-vindos! – bradou. – Mas esperem um momentinho! Perdão!
                  Já vi vocês, as duas crianças, e este outro aí, antes. Não eram vocês que
                  estavam na ponte de Ettin quando passei a cavalo com a minha dama?

                         – Oh... você era o cavaleiro negro que não falava nada! – exclamou
                  Jill.
                         – E era aquela dama a rainha do Subterrâneo? – perguntou Brejeiro,
                  em tom não muito amistoso.

                         Eustáquio, que estava pensando a mesma coisa, explodiu:

                         – Nesse caso, foi uma sujeira da parte dela ter mandado a gente para
                  um castelo de gigantes que pretendiam colocar-nos no cardápio. Que mal
                  fizemos a ela, era o que eu desejava saber...

                         – Como? – disse o cavaleiro negro, franzindo a testa. – Se você não
                  fosse um guerreiro tão jovem, rapaz, íamos decidir esta afronta num duelo
                  de morte. Não tolero uma só palavra contra a honra da minha dama. Mas de
                  uma  coisa  pode  estar  seguro:  ela  jamais  diria  uma  palavra  com  má
                  intenção.  Você  não  a  conhece.  É  um  poço  de  virtudes,  de  verdade,  de
                  clemência, de constância, de coragem, de bondade, de tudo. Digo aquilo
                  que sei. Só a bondade dela para comigo, que jamais poderei retribuir-lhe,
                  daria uma linda história. Mas vocês aprenderão a conhecê-la e a amá-la.
                  Agora lhes pergunto: que missão os traz às Terras Profundas?

                         Antes que Brejeiro a impedisse, Jill soltou o verbo:
                         – Por favor, estamos procurando o príncipe Rilian, de Nárnia. – E só
                  então se deu conta do quanto se arriscara. Mas o cavaleiro não se mostrou
                  interessado, dizendo vagamente:

                         –  Rilian?  Nárnia?  Que  país  é  este?  Nunca  ouvi  falar  neste  nome.
                  Deve estar a milhares de quilômetros das partes do Mundo de Cima que eu
                  conheço. Mas que idéia estranha a de procurar, como é mesmo o nome?... o
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