Page 8 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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quantas explorações a gente pode fazer num casarão, com um toco de vela
na mão.
Algum tempo atrás, Polly havia descoberto que uma portinha no
sótão de sua casa dava para uma caixa-d’água e um lugar escuro. O lugar
escuro parecia um túnel comprido com uma parede de tijolos de um lado e
um telhado inclinado do outro. Não tinha assoalho no túnel: era preciso
andar de viga em viga, pois entre elas havia somente massa, na qual não se
podia pisar, sob o risco de se cair do teto no aposento de baixo. Polly
utilizava um pedacinho do túnel, perto da caixa, como uma caverna de
contrabandista. Levara para lá tábuas de caixotes, assentos de cadeiras
quebradas, coisas que ia espalhando entre as vigas, para fazer uma espécie
de assoalho. Também guardava ali uma caixa contendo vários tesouros,
uma história que andava escrevendo e maçãs. Era ali também que
costumava beber tranqüilamente sua garrafa de soda: as garrafas vazias
ajudavam a fazer o ambiente.
Digory gostou muito da caverna (ela não lhe mostrou a história), mas
estava mais interessado em prosseguir nas explorações.
– Olhe aqui – disse ele. – Até onde vai este túnel? Ele pára onde
termina a sua casa?
– Não, continua. Só não sei até onde.
– Quer dizer, então, que poderíamos andar por cima de todas as casas
do quarteirão.
– Poderíamos, não, podemos.
– Hein?
– Podemos até entrar numa outra casa.
– Ah, é? E acabar na cadeia como ladrão! Não conte comigo.
– Não seja tão espertinho. Eu só estava pensando na casa depois da
sua.
– Que tem a casa depois da minha?
– Está vazia. Papai disse que está vazia desde que mudamos para cá.
– Vamos dar uma olhada – disse Digory. Estava bem mais
entusiasmado do que demonstrava. Naturalmente pôs-se a imaginar por que
a casa estava vazia há tanto tempo. Polly se perguntava a mesma coisa.
Mas nenhum deles disse a palavra “mal-assombrada”. E ambos sentiram
que agora seria uma fraqueza não ir adiante e descobrir o mistério.
– Que tal se a gente fosse agora mesmo? – indagou Digory.
– Está bem – respondeu Polly. – Não precisa ir, se não quiser.