Page 13 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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UM DIÁLOGO ESTRANHO
Foi tão repentino, tão horrível, tão diferente de tudo o que já havia
acontecido a Digory, mesmo em pesadelos, que ele deu um grito.
Instantaneamente a mão de tio André tapou-lhe a boca.
– Nada disso! Sua mãe pode ouvir, e você sabe muito bem que ela
não deve levar sustos.
Nada podia ser mais desagradável, disse Digory mais tarde, do que
lidar com um sujeito naquelas condições. Mas não gritou de novo.
– Melhor assim – disse tio André. – Reconheço que é chocante
quando vemos pela primeira vez uma pessoa sumir. É fato: até eu fiquei
arrepiado quando vi outro dia o porquinho-da-índia desaparecer.
– Foi naquele dia que o senhor deu um berro? – Ah, você ouviu?
Espero que não ande me espionando.
– Não fiz isso – disse Digory, indignado –, mas quero saber o que
aconteceu com a Polly.
– Pode me dar os parabéns – replicou tio André, esfregando as mãos.
– Minha experiência deu certo. A menina se foi, sumiu deste mundo!
– O que o senhor fez com ela?
– Enviei a menina para um outro lugar. – Que história é essa?
Tio André sentou-se e respondeu:
– Bem, vou contar-lhe tudo. Já ouviu falar de dona Lenir?
-Não é uma tia-avó ou qualquer coisa parecida? – Não é exatamente
isso; era a minha madrinha. Aquela ali na parede.
Digory olhou e viu uma fotografia amarelada, mostrando uma velha
com um chapéu antigo. Lembrava-se agora de que já vira uma foto dela
numa velha gaveta. Tinha perguntado à mãe quem era, mas esta preferira
não tocar no assunto. Não era uma figura simpática – pensou Digory –, mas
a gente nunca tem certeza quando se trata dessas fotografias antigas.
– Havia alguma coisa... algo errado com ela, tio André? – perguntou
o menino.