Page 16 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Pó. Pó fininho, pó seco. Nada de entusiasmar. Nada que valesse
                  tanto trabalho – é o que você deve estar achando. Ah, mas quando vi aquele
                  pó (tive o cuidado de não tocar nele) e pensei que cada grãozinho ali já
                  estivera  em  outro  mundo...  Não  estou  falando  de  outro  planeta,  pois  os
                  planetas  fazem  parte  do  nosso  mundo...  Estou  falando  de  outro  mundo
                  mesmo  –  uma  outra  natureza, um  outro universo –, um  lugar  onde você
                  jamais chegaria, mesmo que viajasse eternamente através do espaço deste
                  nosso  universo...  Um  mundo  que  só  poderia  ser  alcançado  através  da
                  magia! Bem...

                         A  essa  altura  tio  André  esfregava  tanto  as  mãos  que  seus  dedos
                  estalavam como fogos de artifício. E prosseguiu:

                         – Sabia que, se fizesse direito, aquele pó nos levaria ao lugar de onde
                  viera. A dificuldade era esta: como fazer? Minhas primeiras experiências
                  foram  grandes  fracassos.  Usei  porquinhos-da-índia.  Alguns  apenas
                  morreram. Outros explodiram feito bombas...

                         – Que maldade! – exclamou Digory, que ia tinha tido um porquinho-
                  da-índia.
                         – Como você teima em fugir do assunto! É para isso que as criaturas
                  existem. Paguei com o meu dinheiro! Onde é mesmo que eu estava? Ah,
                  sim. Afinal acabei conseguindo fazer os anéis: os amarelos. Surgiu então
                  uma  nova  dificuldade.  Estava  convencido  de  que  um  anel  amarelo
                  remeteria ao outro mundo qualquer criatura que tocasse nele. Mas de que
                  valeria isso, se a criatura não podia voltar para dizer o que havia visto por
                  lá?

                         – E a própria criatura? – perguntou Digory. – Não podendo voltar,
                  ficaria numa enrascada!

                         –  Você  sempre  olha  as  coisas  de  um  ponto  de  vista  negativo  –
                  replicou tio André, com impaciência. – Não passa pela sua cabeça que se
                  tratava de uma experiência magna? Só remetemos uma pessoa a outro lugar
                  quando desejamos saber como é esse outro lugar. Certo?

                         –  Bem,  e  por  que  o  senhor  mesmo  não  foi?  Digory  jamais  vira
                  alguém  tão  surpreso  e  ofendido  quanto  o  tio,  por  causa  de  uma  simples
                  pergunta:

                         – Eu?! Eu?! Esse menino deve estar maluco! Um homem da minha
                  idade,  nas  minhas  condições  de  saúde,  correr  o  risco  do  impacto  e  dos
                  perigos  de  um  universo  diferente?!  Nunca  ouvi  nada  tão  disparatado  em
                  toda a minha vida! Você sabe o que está dizendo? Pense bem: trata-se de
                  um outro mundo, onde podemos encontrar tudo... tudo.
                         –  E  foi  para  lá  que  o  senhor  enviou  a  Polly?!  –  As  bochechas  de
                  Digory estavam vermelhas de raiva. – Só tenho uma coisa a dizer: o senhor
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