Page 21 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Acho que já vi você antes.
– Também acho que já vi você – replicou Digory. – Está aqui há
muito tempo?
– Oh, sempre estive aqui – respondeu a menina. – Pelo menos... não
sei.... estou aqui há muito tempo.
– Eu também.
– Não, você não. Acabei de ver você saindo daquele lago.
– É, acho que você tem razão – disse Digory com ar espantado. –
Tinha me esquecido.
Ficaram em silêncio por muito tempo.
– Escute – disse depois a garota. – Será que já não nos encontramos
antes? Tenho a impressão... é como se fosse um quadro na minha cabeça...
de um menino e de uma menina iguaizinhos a nós dois... vivendo num
lugar muito diferente daqui... Talvez não passe de um sonho.
– Também acho que sonhei a mesma coisa – afirmou Digory. –
Sonhei com uma menina e um menino, vizinhos... e tem também umas
vigas por onde os dois caminham. Lembro que a menina esta com o rosto
sujo.
– Não está confundindo? No meu sonho é o menino que está com o
rosto sujo.
– Não consigo me lembrar do rosto do menino – respondeu Digory.
E perguntou: – Que é aquilo?
– Ora, um porquinho-da-índia. E era mesmo, um porquinho-da-índia
gordinho, farejando a relva. Bem no meio do animalzinho havia uma fita e,
preso a ela, um reluzente anel amarelo.
– Olhe, olhe! – gritou Digory. – O anel! E olhe aqui: você também
está com um anel amarelo. E eu também.
A menina sentou-se,
interessada pela primeira vez. Ficaram olhando um para o outro, de
olhos muito arregalados, tentando captar alguma lembrança. E acabaram
gritando ao mesmo tempo:
– O Sr. André!
– Tio André!
Logo se deram conta de quem eram e começaram a relembrar o
resto da história, depois de alguns minutos de animada conversa.