Page 20 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                     UM BOSQUE ENTRE DOIS MUNDOS





                  Tio  André  e  o  estúdio  sumiram  imediatamente.  Por  um  momento  tudo
                  ficou turvo. Digory conseguiu ver uma suave luz verde vindo de cima e a
                  escuridão embaixo. Não parecia estar apoiado em coisa alguma. Nada lhe
                  tocava,  aparentemente.  “Acho  que  estou  dentro  d’água”  –  pensou.  “Ou
                  debaixo  d’água.”  Levou  um  susto,  mas  percebeu  em  seguida  que  estava
                  sendo levado para cima. De súbito viu que tinha chegado ao ar livre e que
                  se arrastava para a relva da margem de um pequeno lago.

                         Quando  se  firmou  nos  pés,  notou  que  não  estava  pingando,  nem
                  respirando sem fôlego, como é de esperar que aconteça com quem tenha
                  estado dentro d’água. Suas roupas continuavam sequinhas.

                         Estava à beira de um pequeno lago com uns três metros de largura,
                  cercado por um bosque. As árvores ficavam tão próximas umas das outras
                  que não podia ver o céu. A luz existente era a luz verde coando-se através
                  das folhas. O sol em cima devia ser muito brilhante, pois essa luz verde era
                  intensa e cálida.

                         Não  é  possível  imaginar  bosque  mais  calmo.  Não  havia  pássaros,
                  nem  insetos,  nem  bichos,  nem  vento.  Quase  se  podia  sentir  as  árvores
                  crescendo. O lago de onde acabara de sair não era o único. Eram muitos,
                  todos  bem  próximos  uns  dos  outros.  Tinha-se  a  impressão  de  ouvir  as
                  árvores  bebendo  água  com  suas  raízes.  Mais  tarde,  sempre  que  tentava
                  descrever  esse  bosque,  Digory  dizia:  “Era  um  lugar  rico:  rico  como  um
                  panetone.”

                         O  mais  estranho  de  tudo  era  que  Digory  tinha  praticamente  se
                  esquecido de como viera parar ali. De qualquer modo, não se lembrava de
                  Polly, de tio André ou mesmo de sua mãe. Não estava assustado, excitado
                  ou  curioso.  Se  alguém  lhe  tivesse  perguntado:  “De  onde  você  veio?”,
                  provavelmente teria respondido: “Nunca saí daqui.” Ou, como disse depois:
                  “Não era um lugar onde as coisas acontecem. As árvores vão crescendo, só
                  isso.”
                         Depois de contemplar o bosque por um longo tempo, Digory notou
                  que  havia  uma  menina  deitada  ao  pé  de  uma  árvore,  ali  pertinho.  Seus
                  olhos  estavam  semicerrados,  como  se  estivesse  entre  a  vigília  e  o  sono.
                  Olhou-a por um bom tempo e nada disse, até que ela falou, com uma voz
                  sonhadora e satisfeita:
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