Page 24 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Vamos logo. Que lago você prefere?

                         – Preste atenção: eu é que não vou experimentar nenhum lago novo
                  antes de ter certeza de poder voltar pelo lago antigo. Ainda nem sabemos se
                  vai dar certo.

                         – Perfeito! Voltar para ser agarrado por tio André, que vai tomar os
                  nossos anéis antes de a brincadeira ter começado! Isso não!

                         – A gente não podia ir pelo menos metade do caminho no nosso lago
                  –  apelou  Polly  –,  só  para  ver  se  funciona?  Se  funcionar,  trocaremos  de
                  anéis e subiremos de novo antes de voltar ao estúdio do seu tio. Levamos
                  bem pouco tempo para subir até aqui; acho que não vai demorar nada para
                  voltar.
                         Digory  chegou  a  se  atrapalhar  um  pouco  antes  de  concordar  com
                  isso,  mas  não  teve  outro  jeito,  porque  Polly  se  recusava  a  novas
                  explorações em novos mundos, caso não tivesse a certeza de poder voltar
                  ao antigo. Em se tratando de muitos perigos, era quase tão valente quanto
                  ele (marimbondos, por exemplo), mas não estava interessada em descobrir
                  coisas das quais nunca ninguém jamais ouvira falar. Digory era do tipo que
                  gostava de conhecer tudo e, quando cresceu, tornou-se o famoso professor
                  Kirke, que aparece em outros livros.

                         Depois  de  muita  discussão,  concordaram  que  deviam  colocar  os
                  anéis (“Os verdes, por segurança”, disse Digory, “pois assim a gente não
                  vai esquecer qual é qual”) e mergulhar de mãos dadas. No entanto, quando
                  calculassem estar de volta ao estúdio de tio André, Polly deveria dar um
                  grito – “Trocar!” –, e então tirariam os verdes e colocariam os amarelos.
                  Polly fez questão de ter o comando dessa operação, contrariando Digory.

                         Colocaram  os  anéis  verdes,  deram-se  as  mãos  e,  mais  uma  vez,
                  contaram com voz firme: “Um... dois... três... já!”

                         Dessa vez deu certo. É difícil contar como foi, pois tudo aconteceu
                  com uma rapidez extraordinária. Primeiro houve luzes brilhantes num céu
                  escuro; Digory sempre achou que eram astros, jurando que chegou a ver
                  Júpiter  pertinho,  a  ponto  de  distinguir  as  luas  do  planeta.  Mas  quase
                  instantaneamente  começaram  a  surgir  fileiras  e  mais  fileiras  de  tetos,  e
                  puderam  ver  a  catedral  de  São  Paulo.  Era  Londres  lá  embaixo.  Mas
                  enxergavam  também  através  das  paredes  de  todas  as  casas.  Viram  o  tio
                  André,  a  princípio  sombrio  e  fora  de  foco,  mas  ficando  cada  vez  mais
                  nítido.  Antes  que  ele  se  tornasse  de  fato  uma  realidade,  Polly  gritou:
                  “Trocar!” – e trocaram os anéis. O nosso mundo foi se apagando mais uma
                  vez, como num sonho, e a luz verde do alto ficou mais intensa, até que as
                  cabeças apontaram fora d’água e ganharam a margem do lago. A operação
                  toda não durou mais do que um minuto.
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