Page 29 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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estavam  contemplando  não  eram  reais.  Não  passava  entre  elas  o  menor
                  sopro de vida. Pareciam estátuas de cera, as mais perfeitas que já existiram.

                         Dessa vez Polly tomou a dianteira. Havia na sala uma coisa muito
                  mais interessante para ela do que para Digory: as figuras usavam roupas
                  deslumbrantes.  Quem  gostasse  de  roupagens  bonitas  não  podia  resistir  à
                  tentação de chegar mais perto. E o resplendor daquelas cores tornava a sala
                  não propriamente animada ou animadora,  mas de certo modo suntuosa e
                  majestosa,  depois  do  vazio  e  do  pó  das  outras  salas.  Contava  com  um
                  número maior de janelas e era bem mais clara.

                         Mal  posso  descrever  as  roupagens.  Todas  as  figuras  envergavam
                  mantos  e  usavam  coroas.  Os  mantos  eram  rubros  e  cinza-prateado,  ou
                  purpúreos com vívidos tons verdes, bordados com desenhos de flores e de
                  estranhos animais. Pedras preciosas de tamanhos aberrantes refulgiam nas
                  coroas, nos colares, nos cintos.

                         –  Não  entendo  é  como  esses  tecidos  não  apodreceram  há  muito
                  tempo – disse Polly.
                         – Magia – murmurou Digory. – Não está sentindo o encantamento?
                  Percebi logo que entrei.

                         – O mais barato desses vestidos custaria um dinheirão em Londres!

                         Mas  Digory  estava  mais  interessado  nas  fisionomias,  que  eram
                  mesmo dignas de ser olhadas. As figuras estavam sentadas em cadeiras de
                  pedra nos dois lados da sala, deixando livre o espaço do meio. – Parece boa
                  gente – falou Digory.

                         Polly assentiu com a cabeça. As feições eram simpáticas. Homens e
                  mulheres pareciam bondosos e inteligentes. Deviam descender de uma raça
                  bonita.  Mas,  à  medida  que  as  crianças  deram  alguns  passos  na  sala,
                  aproximaram-se  de  faces  bem  diferentes.  Rostos  solenes.  Para  falar  com
                  aquelas  figuras  seria  indispensável  caprichar  na  gramática.  Quando
                  avançaram um pouco mais, encontraram-se diante de faces das quais não
                  gostaram nada. Eram rostos de expressão forte e orgulhosa, porém cruéis.
                  Mais  adiante  as  feições  pareciam  ainda  mais  perversas.  Um  pouquinho
                  mais e depararam com expressões mais terríveis ainda, e nem um pouco
                  felizes.  Rostos  quase  desesperados,  como  se  as  pessoas  às  quais
                  pertencessem tivessem cometido, e também sofrido, coisas pavorosas.

                         A última figura era a mais interessante: uma mulher muito alta (de
                  fato, todas as figuras do salão eram mais altas do que as pessoas do nosso
                  mundo),  vestida  mais  ricamente  do  que  as  outras,  e  com  um  olhar  tão
                  aterrador e soberbo que quase tirava o fôlego.
                         Apesar disso, era bela. Muitos anos depois, já velho, Digory chegou
                  a  dizer  que  nunca  vira  mulher  mais  bela  em  toda  a  sua  vida.  É  preciso
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