Page 33 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                     A PALAVRA EXECRÁVEL







                  As crianças ficaram se entreolhando por cima da coluna. O sino, mesmo
                  sem som, ainda vibrava. De repente ouviram um ruído ligeiro no canto da
                  sala ainda intacto. Viraram-se como dois relâmpagos. Uma das figuras, a
                  mais distante, a mulher que Digory achava tão bela, estava levantando-se
                  da cadeira de pedra. Quando se pôs em pé, verificaram que era ainda mais
                  alta. Via-se logo, não apenas por causa da coroa e da roupagem, mas pelo
                  fulgor  de  seus  olhos  e  pela  curva  de  seus  lábios,  que  se  tratava  de  uma
                  grande rainha. Olhou em torno, viu os estragos da sala, viu as crianças; não
                  era  possível  ler  em  seu  rosto  a  menor  reação.  Avançou  com  passadas
                  longas e ligeiras.

                         – Quem me acordou? Quem quebrou o encanto?

                         – Acho que fui eu – respondeu Digory.
                         – Você! – disse a rainha, colocando no ombro do menino sua linda
                  mão alva. Seus dedos, no entanto, eram mais fortes do que pinças de aço. –
                  Você?  Mas  não  passa  de  uma  criança,  uma  criança  comum!  Qualquer
                  pessoa  vê  logo  que  não  tem  nas  veias  uma  só  gotinha  de  sangue  nobre.
                  Como uma pessoa assim ousou penetrar nesta casa?

                         – Viemos de outro mundo, por meio de magia – disse Polly, achando
                  que já era tempo de a rainha dar-lhe alguma atenção.

                         – Isso é verdade ou mentira? – perguntou a rainha olhando ainda para
                  Digory, sem sequer espiar Polly com o canto do olho.

                         – É verdade – disse ele.

                         A rainha, com a outra mão, levantou o queixo do menino, a fim de
                  melhor  observá-lo.  Digory  tentou  encará-la  também,  mas  não  resistiu  e
                  baixou  os  olhos.  Havia  nos  olhos  dela  alguma  coisa  que  o  sobrepujava.
                  Depois que o examinou durante um minuto, soltou-lhe o queixo e disse:
                         – Não tem nada de feiticeiro. Não tem a marca. Só pode ser servo de
                  um  feiticeiro.  Só  por  intermédio  de  feitiçaria  alheia  conseguiu  viajar  até
                  aqui.

                         – Foi o tio André que me enviou para cá – disse Digory.
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