Page 34 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Nesse momento, não propriamente no salão, mas de algum lugar bem
                  próximo, chegou um ribombar, depois um grande estalido e, em seguida, o
                  estardalhaço de alvenaria desabando.

                         – Estamos correndo grande perigo – disse a rainha. – O palácio todo
                  está prestes a ruir. Temos de sair logo para não ficar enterrados nas ruínas.

                         Falou com a maior calma, como se estivesse apenas comentando o
                  tempo. “Vamos”, acrescentou, dando as mãos às crianças. Polly, que não
                  estava gostando nem um pouquinho da rainha, não lhe teria dado a mão,
                  caso  pudesse  opor  alguma  resistência.  Apesar  da  fala  morosa,  os
                  movimentos da rainha eram mais ligeiros que o pensamento.

                         “Que  mulher  mais  desagradável”,  pensou  a  menina.  “Com  uma
                  torcidinha é capaz de quebrar o meu braço. E agora que ela me agarrou,
                  não posso mais alcançar o anel amarelo. Se eu esticar o braço até o bolso,
                  vai perguntar o que estou fazendo. Aconteça o que acontecer, não podemos
                  revelar nada sobre os anéis. Espero que Digory tenha também o bom senso
                  de  manter  o  bico  calado.  Seria  ótimo  se  eu  pudesse  falar  com  ele  a  sós
                  durante um segundo.
                         A  rainha  os  conduziu  por  um  comprido  corredor,  passando  depois
                  por  um  labirinto  de  salas,  escadarias  e  pátios.  Com  freqüência  ainda
                  ouviam pedaços do palácio desabando, às vezes pertinho deles. Um arco
                  enorme  despencou  com  estrépito  logo  depois  que  haviam  passado  por
                  baixo dele. Tinham de apertar o passo para acompanhar a rainha, mas ela
                  não mostrava o menor sinal de medo. Digory ia pensando: “Que mulher
                  mais  corajosa!  E  como  é  forte!  É  isso  que  eu  chamo  de  uma  rainha!
                  Tomara que ela nos conte a história deste lugar.”

                         Enquanto andavam (ou corriam), ela ia dando algumas informações:
                  “Esta é a entrada do calabouço”, “Esta passagem conduz à principal câmara
                  de  torturas”,  “Este  é  um  antigo  salão  de  banquetes,  onde  meu  bisavô
                  recebeu setecentos convidados e matou a todos, antes que terminassem de
                  beber. Tinham idéias subversivas”.

                         Chegaram por fim a um salão mais amplo e mais grandioso do que
                  os  demais.  Pelas  suas  dimensões  e  portas  enormes,  Digory  achou  que
                  finalmente  haviam  atingido  a  entrada  principal  –  no  que  estava
                  completamente certo. As portas eram negras de doer, de ébano ou de algum
                  metal preto que não existe em nosso mundo. Estavam trancadas com barras
                  enormes, muitas tão altas que não podiam ser alcançadas, e todas pesadas
                  demais  para  ser  erguidas.  A  rainha  soltou  a  mão  do  menino  e  ergueu  o
                  braço. As portas altas e pesadíssimas tremeram por um instante, como se
                  fossem de seda, e esboroaram-se no chão, onde só ficou um monte de pó.

                         – Fiu-fiu! – assobiou Digory.
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