Page 30 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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dizer, no entanto, que Polly, por sua vez, sempre afirmou não ter visto nela
                  nada de especialmente bonito.

                         Depois da mulher, havia uma porção de cadeiras vazias, como se o
                  salão tivesse sido projetado para um número bem maior de imagens.

                         – Daria um doce para saber a história que está por trás disso – falou
                  Digory. – Vamos dar uma espiada naquela coisa no meio da sala.

                         A coisa não era propriamente uma mesa. Era uma coluna quadrada
                  com um metro de altura; em cima ficava um pequeno arco dourado do qual
                  pendia um pequeno sino de ouro; ao lado encontrava-se um martelinho de
                  ouro.
                         – Estou pensando... estou pensando... – disse Digory.

                         –  Acho  que  tem  alguma  coisa  escrita  aqui  –  interrompeu  Polly,
                  agachando-se e olhando para um canto da coluna.

                         – Puxa, é mesmo. Mas a gente não sabe ler a língua deles...

                         – Será que não? Tenho minhas dúvidas. Ambos olharam com todos
                  os olhos. Eram de fato estranhos os caracteres sulcados na pedra, mas então
                  o inesperado aconteceu: embora o talhe dos caracteres não se alterasse, os
                  dois perceberam que aos poucos, à medida que olhavam, iam tornando-se
                  capazes de entendê-los. O encantamento começava a agir. Logo já sabiam o
                  que estava escrito na coluna.

                         O estilo devia ser melhor, mas o sentido dos dizeres era o seguinte:
                         Ousado aventureiro, decida de uma vez: Faça o sino vibrar e aguarde
                  o perigo Ou acabe louco de tanto pensar:

                         “Se eu tivesse tocado, o que teria acontecido?” – Eu é que não entro
                  nessa – disse Polly. – Não quero ver perigo nenhum.

                         – Não adianta, Polly, não está vendo que agora é tarde demais? já
                  caímos na coisa. A gente vai passar a vida pensando o que teria acontecido
                  se tivesse tocado o sino. Eu é que não quero ficar louco, pensando a vida
                  inteira nisso. Eu, não!

                         – Não seja tão bobo. Que interesse pode ter o que teria acontecido?
                         – Quem chegou até este ponto, não tem mais saída: ou toca o sino ou
                  fica  maluco.  É  este  o  encantamento,  você  não  entende?  já  estou  ficando
                  empolgado... encantado...

                         –  Não  estou  sentindo  nada  –  disse  Polly,  meio  zangada.  –  E  nem
                  acredito na sua empolgação. É fita sua.

                         –  É  porque  você  é  mulher.  Mulher  só  quer  saber  de  intriga  e  de
                  fofoca sobre namoros.
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