Page 38 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Queriam mesmo era partir dali, mas Polly não podia pegar seu anel e,
                  naturalmente, Digory não iria sem ela. Muito corado, o menino gaguejou:

                         – Oh... oh... nosso mundo. Não... não sabia que a senhora desejava ir
                  lá.

                         – Ora, vocês só podem ter sido despachados para cá a fim de levar-
                  me para lá.

                         – Sou capaz de jurar que a senhora não vai gostar nem um pouco do
                  nosso  mundo  –  replicou  Digory.  –  Não  é  um  lugar  para  ela,  não  acha,
                  Polly? É monótono! Não tem nada para se ver, não tem mesmo!
                         – Terá muita coisa para se ver depois que eu assumir o governo – foi
                  o comentário da rainha.

                         – Oh, mas não dá! – disse Digory. – Também não é assim. Eles não
                  vão deixar a senhora entrar, sabe? A rainha sorriu, com desprezo:

                         – Grandes reis, inúmeros, pensaram que poderiam enfrentar a Casa
                  de  Charn.  Caíram  todos  e  até  seus  nomes  foram  esquecidos.  Jovem
                  insensato! Não percebe que, com a  minha beleza e a  minha magia, terei
                  todo o seu mundo a meus pés antes de um ano? Prepare seu encantamento e
                  leve-me imediatamente para lá.

                         – Essa é de lascar – disse Digory a Polly.

                         – Talvez receie por seu tio – disse Jadis. – Mas, caso ele me preste as
                  honras devidas, poderá conservar a vida e o trono. Não vou para destruí-lo.
                  Deve ser um grande feiticeiro, já que descobriu como enviá-lo até aqui. Ele
                  é rei do mundo todo ou só de uma parte?
                         – Não é rei de coisa nenhuma! – respondeu Digory.

                         –  Mentira  sua!  A  magia  e  o  sangue  real  andam  sempre  juntos.
                  Alguém  já  ouviu  falar  de  gente  comum  que  conhecesse  feitiçaria?  Não
                  adianta mentir para mim; eu posso ver a verdade. Seu tio é o grande rei e o
                  grande mago de seu mundo. Graças à sua arte, viu a sombra de meu rosto
                  em algum espelho mágico ou num lago encantado. E, por amor à minha
                  beleza,  manipulou  um  feitiço  que  abalou  as  bases  do  mundo  e  o  levou
                  através do abismo entre dois mundos, para que rogasse da minha graça a
                  concessão de ir até ele. Responda: foi ou não foi assim?

                         – Não foi bem assim – respondeu Digory.

                         –  Não  foi  bem  assim?  –  gritou  Polly.  –  Isso  é  uma  besteira  do
                  princípio ao fim.
                         –  Porcariazinha!  –  gritou  por  sua  vez  a  rainha,  virando-se  furiosa

                  para  Polly  e  agarrando-lhe  os  cabelos  bem  no  alto  da  cabeça,  onde  dói
                  mais. Mas, ao fazer isso, soltou as mãos de ambos.
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