Page 42 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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estar metido em magia há anos, sempre reservara as missões perigosas para
                  outras pessoas. Nada parecido lhe acontecera até então.

                         Jadis falou. Não muito alto, mas alguma coisa na sua voz fez a sala
                  estremecer.

                         – Onde está o feiticeiro que me convocou a este mundo?

                         -Ah... ah... minha senhora – arquejou tio André –,
                         é uma honra... excelsa... eu... um... encantador prazer... de acolher...
                  se  ao  menos  este  seu  humílimo  servo  fosse  antes  avisado  de  vossa  real
                  chegada... eu... eu...

                         – Onde está o feiticeiro, idiota? – perguntou Jadis.

                         – Ah... ah... minha senhora. Espero que a senhora tenha perdoado...
                  hum... quaisquer liberdades que porventura estas crianças levadas tenham
                  tomado diante de tão augusta presença. Posso assegurar-lhe...

                         –  Você,  ainda?  –  disse  a  rainha,  numa  voz  ainda  mais  aterradora.
                  Com uma passada, cruzou a sala, apanhou um punhado do cabelo cinzento
                  de  tio  André  e  empurrou  a  cabeça  dele  para  trás.  Examinou-lhe  o  rosto
                  demoradamente, enquanto o velho piscava os olhos e molhava os lábios o
                  tempo  todo.  Por  fim,  soltou-o  tão  abruptamente  que  ele  rodopiou  de
                  encontro à parede.

                         – Sei que tipo de feiticeiro é você – disse a rainha com desprezo. –
                  Fique firme, animal, e pare de rebolar como se estivesse falando com gente
                  de sua laia. Como aprendeu magia? Sangue real posso jurar que você não
                  tem.
                         – Bem... realmente... real, no estrito senso da palavra, não tenho –
                  voltou  a  gaguejar  tio  André.  –  Não  precisamente  real,  senhora.  Os
                  Ketterley,  contudo,  pertencem  a  uma  velha  família...  a  uma  tradicional
                  família...

                         – Basta – disse a feiticeira. – Já sei o que você é. Não passa de um
                  feiticeiro de meia-tigela, que só opera por meio de livros e fómulas. Não há
                  um pingo de magia verdadeira em seu sangue. Gente de seu tipo foi varrida
                  do meu mundo há mais de mil anos. Aqui, entretanto, concedo que você
                  seja o meu servo.

                         – Será uma honra... uma grande ventura, senhora, poder prestar-lhe
                  qualquer serviço, um de-de-deleite que...

                         – Já chega. Você fala demais. Preste atenção em sua primeira tarefa.
                  Estamos numa grande cidade, estou vendo. Vá buscar-me uma carruagem
                  triunfal ou um tapete voador ou um dragão em boa forma... Ou qualquer
                  coisa  habitualmente  usada  pelos  nobres  de  sua  terra.  Leve-me  depois  a
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