Page 43 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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lugares onde eu possa obter vestidos e jóias e escravos dignos da minha alta
                  posição. Amanhã começarei a conquistar o mundo.

                         – Eu... eu... vou correndo buscar um cabriolé – disse o ofegante tio
                  André.

                         – Espere – disse a feiticeira. – Que a sombra da traição nem passe
                  pela  sua  cabeça.  Meus  olhos  enxergam  através  das  paredes  e  dentro  do
                  espírito  dos  homens,  e  estarão  dentro  de  você  em  todos  os  lugares.  Ao
                  primeiro sinal de desobediência, rogo-lhe esta praga: onde se sentar, será
                  como o ferro em brasa; quando se deitar, invisíveis blocos de gelo pousarão
                  em cima de seus pés. Agora, vá!

                         O velho saiu como um cachorro com o rabo entre as pernas.
                         As crianças temiam agora que Jadis quisesse ajustar as contas pelo
                  que  ocorrera  no  bosque.  No  entanto,  a  rainha  nunca  mais  mencionou  o
                  assunto. Eu acho (e Digory também) que a mente dela era de um tipo que
                  jamais  se  lembraria  daquele  lugar  calmo.  Você  poderia  levá-la  para  lá
                  várias  vezes,  e  deixá-la  por  um  longo  tempo,  que  ela  continuaria  sem
                  lembrança nenhuma.

                         Agora que ela estava sozinha com as crianças, nem notava a presença
                  delas.  Ela  era  assim  mesmo.  Em  Charn,  queria usar  Digory  e  não deu a
                  mínima  atenção  a  Polly;  agora,  que  tinha  tio  André  nas  mãos,  pouco  se
                  importava com Digory. As bruxas em geral são assim. Não estão jamais
                  interessadas  nas  coisas ou nas pessoas, mas  na  utilidade  eventual destas.
                  São de um espírito prático implacável.

                         Fez-se silêncio na sala por um ou dois minutos, mas, pelas pancadas
                  do pé de Jadis no chão, via-se que sua impaciência crescia. Por fim falou,
                  como para si mesma:

                         –  Que  andará  fazendo  aquele  velho  maluco?  Devia  ter  trazido  um
                  chicote. – E, sem olhar para as crianças, saiu, como um pavão, à procura de
                  tio André.

                         – Opa! – exclamou Polly, respirando aliviada. – Tenho de ir já para
                  casa. É tarde pra burro.
                         – Está bem, mas volte o mais cedo que puder – disse Digory. – Não
                  pode  haver  nada  mais  medonho  do  que  ter  esta  mulher  aqui  em  casa.
                  Temos de combinar um plano.

                         – O problema é de seu tio. Foi ele quem começou a confusão toda.

                         –  Está  certo...  mas  você  volta?  Não  vá  me  deixar  sozinho  numa
                  enrascada destas.
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