Page 47 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 47
7
O QUE ACONTECEU NA RUA
– Escravo, por quanto tempo terei de esperar pela minha carruagem? –
bradou a feiticeira.
Tio André encolheu-se todo. Agora, na presença dela, os
pensamentos bobos que tivera ao espelho foram desaparecendo. Tia Lera
levantou-se logo e foi para o meio da sala.
– André, quem é esta jovem, se e que tenho o direito de saber? –
perguntou, em tom glacial.
– Uma distintíssima estrangeira... mu... muito im... im... importante.
– Asneira! – disse tia Lera, virando-se depois para a feiticeira. – Saia
desta casa imediatamente, sua sirigaita! Ou eu chamo a polícia! – Achava
que a feiticeira era artista de circo e, além disso, não consentia braços nus.
– Quem é esta mulher? – perguntou Jadis. – Ajoelhe-se, sua
ordinária, antes que eu a desmonte. – Cuidado com as palavras que usa na
minha casa, senhorita! – disse tia Lera.
Nesse momento, tio André teve a impressão de que a rainha ficara
ainda mais alta. Seus olhos faiscavam. Estendeu o braço e pronunciou umas
palavras de som assustador, como fizera para destruir o portal de Charn.
Nada aconteceu; tia Lera, pensando que aquelas palavras horríveis fossem
um inglês malfalado, disse:
– Já estou entendendo. A mulher está bêbada. Completamente
bêbada! Nem pode falar direito. Deve ter sido horrível para a feiticeira
perceber que o seu poder de reduzir pessoas a pó não funcionava em nosso
mundo. Mas só perdeu a compostura durante um segundo. Sem gastar
tempo com palavras, agarrou tia Lera pelo pescoço e pelos joelhos,
levantou-a acima da cabeça como se fosse uma boneca de pano, e fez o
lançamento... Enquanto tia Lera rodopiava no ar, a empregada (que estava
tendo um dia de maravilhosa animação), enfiou a cabeça na porta e disse:
– O cabriolé chegou.
– Vamos, escravo – disse a feiticeira para tio André.
Ele tentou resmungar qualquer coisa como “uma lamentável
violência”, mas ficou mudo ao erguer os olhos para a rainha, que o