Page 48 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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conduziu para fora da casa. Digory veio correndo pelas escadas e chegou a
                  tempo de ver a porta da rua sendo fechada.

                         –  Puxa!  Agora  ela  está  solta  em  Londres.  E  com  tio  André!  Pode
                  acontecer tudo neste mundo. – Oh, seu Digory – disse a empregada (que
                  estava  vivendo  um  dia  maravilhoso)  –,  acho  que  dona  Letícia  está  um
                  pouco machucada.

                         Ambos correram para a sala de estar.

                         Se  tia  Lera  tivesse  caído  na  madeira  do  assoalho  ou  mesmo  no
                  tapete, teria decerto quebrado todos os ossos. Por pura sorte, havia caído no
                  colchão.  Era  uma  velha  dura,  como  costumavam  ser  as  tias  solteironas
                  daquele  tempo.  Depois  que  cheirou  seus  sais,  descansou  por  alguns
                  minutos  e  disse  que  não  era  nada:  apenas  algumas  manchas  roxas.  Não
                  demorou a comandar a situação, falando à empregada:
                         – Sara, vá imediatamente à delegacia dizer que há uma doida solta
                  por aí. Eu mesma levo o almoço de dona Mabel.

                         Dona Mabel era a mãe de Digory. Depois de almoçar com a tia, o
                  menino pôs-se a pensar profundamente.

                         O problema era o seguinte: como enviar a feiticeira para o mundo
                  dela,  ou  pelo  menos  expulsá-la  do  nosso  o  mais  cedo  possível?  O
                  importante, fosse como fosse, era impedir que ela continuasse a tumultuar a
                  casa. Não podia de maneira nenhuma ser vista por sua mãe. Igualmente, se
                  possível, não deveria tumultuar a cidade de Londres. Digory não estava na
                  sala de estar quando ela tentou “desmontar” tia Lera, mas tinha assistido ao
                  “desmonte” do portal de Charn. Não sabia que ela perdera seus medonhos
                  poderes em nosso mundo, mas sabia que pretendia conquistar a Inglaterra e
                  o  resto.  Naquele  momento  só  podia  estar  desmontando  o  Palácio  de
                  Buckingham ou o Parlamento. Muitos policiais já deviam estar reduzidos a
                  pó. Haveria alguma coisa que pudesse fazer?

                         “Os anéis funcionam como ímãs”, pensava ele. “Se eu tocar nela e
                  agarrar o amarelo, iremos para o Bosque entre Dois Mundos. Será que ela
                  perderá  suas  forças  de  novo  ao  chegar  lá?  Ou  foi  apenas  o  choque  da
                  primeira  experiência?  Tenho  de  arriscar.  E  como  é  que  vou  encontrar
                  aquela imbecil aqui em Londres? Aliás, acho que tia Lera não me deixará
                  sair se eu não disser aonde vou. E o dinheiro que tenho não dá nem para a
                  condução. Nem sei onde começar a procurar. Será que tio André ainda está
                  com ela?”

                         Por  fim,  concluiu  que  só  podia  fazer  uma  coisa:  esperar  que  tio
                  André  e  a  feiticeira  voltassem.  Se  voltassem,  agarraria  a  feiticeira;
                  colocaria  o  anel  amarelo  antes  que  ela  entrasse  em  casa.  Tinha  de  ficar
                  observando da porta da rua como um gato de olho num rato. Foi para a sala
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