Page 53 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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A BRIGA
– Vamos ver se ela é mesmo uma imperatriz – gritou uma voz.
– Três vivas à Imperatriz de Tiririca da Lagoa do Bode!
Uma onda ruborizada banhou o rosto da feiticeira, que chegou a
agradecer com uma leve inclinação de cabeça. Mas os vivas acabaram em
explosões de gargalhadas e ela percebeu que era tudo zombaria. Sua
expressão mudou e ela passou o facão para a mão esquerda. Em seguida,
sem aviso prévio, fez uma coisa terrível de se ver. Com um leve toque,
como se fosse a coisa mais fácil deste mundo, estendeu o braço e arrancou
uma das pesadas barras do poste da rua. Se perdera os poderes mágicos em
nosso mundo, não perdera a força bruta. Era ainda capaz de partir uma
barra de ferro como se fosse uma bisnaga de pão. Lançou para o alto sua
nova arma, segurou-a na queda, brandiu no ar a pesada massa e fez o
cavalo ir em frente.
“É a minha vez”, pensou Digory. Disparou entre o cavalo e as
grades. Se o animal ficasse quieto um pouquinho, poderia agarrar o
calcanhar da feiticeira. Enquanto corria, ouviu um barulho de coisa
esmagada e um baque. A feiticeira havia descido a barra de ferro em cima
do capacete do chefe de polícia. O homem caiu como um pino de boliche.
– Depressa, Digory, temos de acabar com isto – disse uma voz a seu
lado. Era Polly, que viera correndo depois de acabado o castigo.
– Puxa, você! Segure em mim com força. Tem de colocar o anel. O
amarelo, hein! Mas só quando eu gritar.
Mais um capacete esfacelado e outro policial caindo como um
pacote. A multidão berrava: – Jogue ela no chão. Vamos pegar as pedras do
calçamento. Chamem o exército.
Mas quase todos fugiam para tão longe quanto possível. O cocheiro,
no entanto, sem dúvida o mais valente e gentil entre os presentes,
mantinha-se perto do cavalo, saltando para cá e para lá a fim de evitar os
golpes da barra, mas sempre procurando agarrar a cabeça de Morango.
A multidão apupava e rugia novamente. Uma pedra passou
assoviando pela orelha de Digory. Foi quando soou a voz da feiticeira,
clara como um toque de sino e mostrando que, naquele momento pelo
menos, ela estava próxima da felicidade.