Page 55 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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mão de Digory. Uma das mãos do cocheiro pousava em Morango; a outra
estava na mão de tio André, que ainda tremelicava.
– Rápido! – disse Polly, dando um olhar inteligente para Digory. –
Verdes!
O coitado do cavalo nem chegou a beber. O bando todo viu-se de
novo mergulhado na escuridão. Morango deu um relincho; tio André soltou
um gemido. Digory exclamou:
– Que sorte!
Uma pausa. Depois ouviu-se a voz de Polly: – A gente já não devia
estar perto?
– Parece que chegamos a algum lugar – respondeu Digory. – Pelo
menos estou em cima de algo sólido.
– É verdade – disse Polly. – Agora é que estou percebendo. Mas por
que esta escuridão? Quer dizer, será que entramos no poço errado?
– Talvez estejamos em Charn – disse Digory. – Só que voltamos
durante a noite.
– Aqui não é Charn. – Era a voz da feiticeira. – Aqui é um mundo
vazio. Aqui é Nada.
E, de fato, parecia mesmo Nada. Não havia uma única estrela. Era
tão escuro que não se enxergavam; tanto fazia ficar de olhos abertos ou
fechados. Sob seus pés havia uma coisa fria e plana, que podia ser chão,
mas que não era relva nem madeira. O ar era seco e frio e não havia vento.
– Chegou a hora do meu destino – disse a feiticeira, com uma voz
horrivelmente calma.
– Não diga isso, por favor – balbuciou tio André. – Minha boa
senhora, por obséquio, não diga uma coisa dessas. Cocheiro... meu amigo...
por acaso não tem aí uma garrafinha? Estou precisando de uma dosezinha.
– Calma, muita calma – disse o cocheiro, com uma voz firme e
animadora. – Ninguém quebrou nada? Ótimo. Só por isso devemos ficar
agradecidos; afinal, foi um tombo daqueles. Escutem: se caímos num
buraco... desses da construção do metrô – alguém vai aparecer e tirar a
gente daqui. E se a gente morreu – pode ter acontecido –, tinha mesmo de
morrer um dia. Quem levou uma vida direita, não precisa ter medo, é ou
não é? Se querem saber minha opinião, o jeito agora, para passar o tempo, é
cantar um hino de igreja.
E começou a cantar. Escolheu de saída um hino de ação de graças,
falando em “boa colheita”. Não eram palavras muito adequadas ao local,
onde planta nenhuma parecia ter brotado desde o princípio dos tempos.