Page 51 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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multidão. – Que belo trabalho ela fez nesse olho, hein?! A mulher é forte
                  mesmo!

                         – Coloque um pedaço de carne crua no olho, senhor – recomendou
                  um açougueiro. – É tiro e queda.

                         – Um momento! – falou o chefe de polícia. – Que confusão é esta
                  aqui?

                         – Foi o seguinte: ela... – mas o gordo foi interrompido.
                         – Não deixe o cara do cabriolé fugir.

                         O  senhor  de  idade,  que  só  podia  ser  tio  André,  tinha  conseguido
                  colocar-se em pé e esfregava suas escoriações. O policial virou-se para ele:
                  – Afinal, o que está acontecendo aqui?

                         – Onf... punf... ronf... – Era a voz do tio André de dentro da cartola.

                         – Pare com essa palhaçada – disse o policial, com a voz severa. –
                  Não é hora de brincar. Tire logo essa cartola.
                         Era  mais fácil falar do que fazer. Dois policiais pegaram a cartola
                  pela aba e arrancaram-na à força.

                         –  Muito  grato,  muito  grato  –  disse  tio  André  num  fio  de  voz.  –
                  Nossa! Estou todo batido. Se alguém fizesse a fineza de me dar um pouco
                  de conhaque...

                         –  Preste  atenção,  por  favor  –  disse  o  guarda,  tirando  do  bolso  um
                  enorme caderno de anotações e um toco de lápis muito curto. – É o senhor
                  o responsável por essa jovem?

                         – Cuidado! – gritaram várias vozes, e o policial deu um pulo para
                  trás, na horinha. O cavalo tinha armado um coice para ele, provavelmente
                  mortal.
                         A  feiticeira  manobrou  o  cavalo  de  maneira  que  pudesse  encarar  a
                  multidão;  com  um  facão  reluzente,  libertara  o  animal  dos  destroços  do

                  cabriolé.
                         Durante  esse  tempo  todo,  Digory  procurava  um  jeito  de  tocar  na
                  feiticeira. Não era fácil: de um lado, havia a multidão; para chegar ao outro
                  lado, teria de passar perto das patas do cavalo. Assim, de dentes cerrados, o
                  menino aguardava um momento favorável.

                         Um  homem  de  carão  vermelho  e  chapéu~  coco  tinha  conseguido
                  chegar à frente do ajuntamento.

                         – Ei, seu guarda! O cavalo que ela está montando é meu; o cabriolé
                  que virou lenha também é meu.

                         – Um de cada vez, um de cada vez – disse o policial.
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