Page 40 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 40
6
COMEÇAM AS COMPLICAÇÕES DE TIO
ANDRÉ
– Me solte! Me solte! – berrava Polly.
– Não estou segurando você! – respondia Digory. Suas cabeças em
seguida surgiram do poço e, mais uma vez, a luminosa quietude do Bosque
entre Dois Mundos os envolveu. Parecia ainda mais cheio de vida, mais
cálido e mais tranqüilo depois dos destroços deteriorados de Charn. Se lhes
fosse dada a oportunidade, decerto teriam se esquecido de quem eram, de
onde vieram, teriam se estendido no chão, deleitando-se, meio
adormecidos, a escutar o crescimento das árvores. Dessa vez, porém, uma
coisa os manteve mais acordados do que nunca: logo que pisaram a relva
descobriram que não se achavam sós. A rainha, ou feiticeira, tinha viajado
com eles, agarrada aos cabelos de Polly. Por isso esta gritava “me solte”.
Isso vinha a provar uma outra coisa sobre os anéis; tio André nada
informara a respeito para Digory porque também ignorava o fenômeno.
Para mudar de um mundo para outro, trazido pelo anel, não era preciso usá-
lo ou tocá-lo; bastava tocar a pessoa que estivesse em contato com ele. O
anel funcionava como um imã; se você agarrar um alfinete com um ímã,
pode puxar outros alfinetes em contato com o primeiro.
Mas no bosque a rainha Jadis não era a mesma. Para começar, estava
muito mais pálida; tão pálida que mal lhe sobrava alguma beleza. Curvada,
parecia ter a respiração opressa, como se o ar local a sufocasse. Já não dava
medo às crianças.
– Solte o meu cabelo! Solte o meu cabelo! – esbravejou Polly.
– Solte logo o cabelo dela! – gritou Digory. Ambos caíram em cima
da rainha e livraram os cabelos de Polly em poucos segundos. Estavam
agora mais fortes do que ela, que tinha uma expressão de terror nos olhos.
– Depressa, Digory – disse Polly. – Vamos trocar os anéis e
mergulhar no lago que nos leva para casa. – Socorro! Socorro! Tenham
pena de mim! – suplicou a feiticeira, com uma voz fraca, enquanto
cambaleava, ofegante, na direção deles. – Levem-me também. Se me
deixarem aqui será uma crueldade, um crime de morte.