Page 40 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                          COMEÇAM AS COMPLICAÇÕES DE TIO

                                                                                         ANDRÉ







                  – Me solte! Me solte! – berrava Polly.

                         – Não estou segurando você! – respondia Digory. Suas cabeças em
                  seguida surgiram do poço e, mais uma vez, a luminosa quietude do Bosque
                  entre  Dois Mundos os  envolveu.  Parecia  ainda  mais  cheio de  vida,  mais
                  cálido e mais tranqüilo depois dos destroços deteriorados de Charn. Se lhes
                  fosse dada a oportunidade, decerto teriam se esquecido de quem eram, de
                  onde  vieram,  teriam  se  estendido  no  chão,  deleitando-se,  meio
                  adormecidos, a escutar o crescimento das árvores. Dessa vez, porém, uma
                  coisa os manteve mais acordados do que nunca: logo que pisaram a relva
                  descobriram que não se achavam sós. A rainha, ou feiticeira, tinha viajado
                  com eles, agarrada aos cabelos de Polly. Por isso esta gritava “me solte”.

                         Isso vinha a provar uma outra coisa sobre os anéis; tio André nada
                  informara  a  respeito  para  Digory  porque  também  ignorava  o  fenômeno.
                  Para mudar de um mundo para outro, trazido pelo anel, não era preciso usá-
                  lo ou tocá-lo; bastava tocar a pessoa que estivesse em contato com ele. O
                  anel funcionava como um imã; se você agarrar um alfinete com um ímã,
                  pode puxar outros alfinetes em contato com o primeiro.
                         Mas no bosque a rainha Jadis não era a mesma. Para começar, estava
                  muito mais pálida; tão pálida que mal lhe sobrava alguma beleza. Curvada,
                  parecia ter a respiração opressa, como se o ar local a sufocasse. Já não dava
                  medo às crianças.

                         – Solte o meu cabelo! Solte o meu cabelo! – esbravejou Polly.

                         – Solte logo o cabelo dela! – gritou Digory. Ambos caíram em cima
                  da  rainha  e  livraram  os  cabelos  de  Polly  em  poucos  segundos.  Estavam
                  agora mais fortes do que ela, que tinha uma expressão de terror nos olhos.

                         –  Depressa,  Digory  –  disse  Polly.  –  Vamos  trocar  os  anéis  e
                  mergulhar  no  lago  que  nos  leva  para  casa.  –  Socorro!  Socorro!  Tenham
                  pena  de  mim!  –  suplicou  a  feiticeira,  com  uma  voz  fraca,  enquanto
                  cambaleava,  ofegante,  na  direção  deles.  –  Levem-me  também.  Se  me
                  deixarem aqui será uma crueldade, um crime de morte.
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