Page 18 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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verdadeiros. E o senhor não passa de um bruxo cruel como os que existem
nos contos. Escute então: nunca soube de um bruxo que não acabasse
pagando por sua maldade no final da história. É só.
De todas as coisas ditas por Digory, foi esta a única que teve
endereço certo. Sobressaltado, tio André revelou tanto horror na face que,
apesar de sua monstruosidade, era quase possível ter pena dele. Um
segundo depois recompôs-se, dizendo com um sorriso forçado:
– Bem, bem, é natural que uma criança pense dessa maneira, uma
criança criada entre mulheres, como você. Não precisa preocupar-se com
os meus perigos, Digory. Não seria melhor preocupar-se com os perigos
por que passa a sua amiguinha? Já há algum tempo que ela foi embora. Se
algum perigo existir lá... bem... seria uma pena chegar um pouquinho
atrasado.
– Até parece que o senhor se importa muito com isso! – disse
Digory, impetuosamente. – Já estou cheio desse papo. Que devo fazer?
– Antes de mais nada, aprender a controlar os seus nervos, meu filho
– respondeu o tio André, com frieza. – Do contrário vai acabar como a sua
tia. Vamos.
Levantou-se, calçou um par de luvas e dirigiu-se para a bandeja de
anéis.
– Eles só funcionam quando estão de fato em contato com a pele.
Com luvas posso pegá-los à vontade, assim. Se levar um no bolso nada
acontecerá. Mas tenha muito cuidado para não colocar a mão no bolso por
distração. No momento em que tocar um anel amarelo, sumirá deste
mundo. Quando estiver no outro lugar, espero que – isso ainda não foi
testado, naturalmente, mas sempre espero –, ao tocar no anel verde, você
desapareça de lá e reapareça aqui. Bem. Pego estes dois verdes e deixo que
eles caiam dentro do seu bolso esquerdo. Não se esqueça do bolso em que
estão os verdes. V para verde e E para esquerdo. V.E., preste atenção, as
primeiras duas letras de verde. Um para você, outro para a garota. Agora
pegue um amarelo. Eu – se fosse você – colocaria o anel no dedo, pois
assim é mais difícil perdê-lo.
Digory já estava para agarrar o anel amarelo quando se lembrou de
algo importante:
– Espere um pouco: e mamãe? Se ela perguntar onde eu estou?
– Quanto mais depressa for, mais depressa estará de volta – disse o
tio André, tentando ser animador. – Mas o senhor nem mesmo sabe se eu
vou voltar.
Tio André sacudiu os ombros, deu uns passos, abriu a porta e disse: