Page 11 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Ah! Agora a louca da minha irmã não pode mais nos perturbar!

                         Era  terrível,  muito  diferente  de  tudo o  que  se pode  esperar  de  um
                  adulto! Polly tinha o coração na boca. Ela e Digory começaram a caminhar
                  na  direção  da  portinhola  por  onde  haviam  entrado.  Tio  André  foi  mais
                  ligeiro,  fechando  também  essa  passagem.  Depois  esfregou  as  mãos,
                  estalando os nós dos longos dedos muito brancos.

                         – Encantado em vê-los – disse. – Duas crianças! Exatamente o que
                  eu mais queria neste momento! – Por favor, Sr. André – disse Polly –, está
                  quase na hora do jantar e tenho de ir para casa. Quer deixar a gente sair, por
                  favor?

                         – Ainda não – respondeu tio André. – A oportunidade é boa demais
                  para eu perdê-la. Estou em plena fase de uma experiência importantíssima.
                  Utilizei um porquinho-da-índia e parece que deu certo. Mas o que pode um
                  porquinho-da-índia relatar? Impossível explicar para ele como voltar.
                         – Escute aqui, tio André – disse Digory –, está mesmo na hora do
                  jantar, e daqui a pouco estarão chamando por nós. Melhor o senhor deixar a
                  gente ir embora.

                         – Melhor... por quê?

                         Digory  e  Polly  trocaram  olhares  aflitos.  Não  ousavam  dizer  coisa
                  alguma, mas os olhares significavam o seguinte: “Que coisa pavorosa!” E
                  também: “Vamos ver se damos um jeito.”

                         –  Se  o  senhor  permitir  que  a  gente  vá  jantar  –  falou  Polly  –,
                  voltaremos mais tarde.

                         – Como posso saber que voltarão realmente? – perguntou tio André,
                  com um sorriso astuto. Pareceu, no entanto, mudar de idéia.
                         – Muito bem, se precisam mesmo ir, que hei de fazer? Não deve ser
                  divertido para dois jovens como vocês conversar com um velhote. – Deu
                  um  suspiro  e  continuou:  –  Vocês  não  podem  imaginar  como  me  sinto
                  sozinho às vezes! Podem ir jantar, meus filhos. Mas antes quero lhes dar
                  um  presente.  Não  é  todo  dia  que  encontro  uma  moça  neste  meu  velho
                  estúdio, principalmente uma senhorita tão bela como você.

                         Polly já começava a achar que ele não era tão louco, afinal de contas.

                         – Quer um anel, meu bem? – perguntou tio André.

                         – Um daqueles verdes? Quero, sim!
                         – Um verde, não! – replicou tio André. – Lamento muito não poder
                  dispor dos anéis verdes. Mas terei o maior prazer em presenteá-la com um

                  dos amarelos: de todo o coração. Experimente um.
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