Page 9 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Se você topa, eu também topo.

                         – Como a gente vai saber que está em cima da casa vizinha?

                         Resolveram descer e contar quantos passos havia em toda a extensão
                  da casa e, depois, contaram os passos entre uma viga e outra, para saber
                  quantas vigas existiam sobre a casa. Então, multiplicaram esse número por
                  dois; o resultado obtido corresponderia ao fim da casa de Digory; dali para
                  frente, só poderiam estar no sótão da casa vazia.

                         – Mas não acho que ela esteja mesmo vazia! – disse Digory.
                         – Como assim?

                         – Acho que alguém mora lá, escondido, saindo e entrando tarde da
                  noite, com uma lanterna abafada. Acho que vamos descobrir um bando de
                  assassinos  e  ganhar  uma  recompensa.  É  besteira  acreditar  que  uma  casa
                  fique vazia esse tempo todo, a não ser que exista algum mistério.

                         –  Papai  acha  que  é  por  causa  do  mau  estado  do  encanamento  –
                  observou Polly.

                         – Encanamento! Gente grande tem a mania de dar explicações sem
                  graça! – disse Digory. Agora, que conversavam à luz do dia, não parecia
                  muito provável que a casa estivesse mal-assombrada.

                         Não  estavam  muito  seguros  sobre  as  medições  e  os  cálculos  no
                  papel, mas, de qualquer maneira, não havia tempo a perder.
                         – Não podemos fazer o menor barulho – disse Polly quando subiram
                  e se encontraram perto da caixa-d’água. Cada um levava consigo uma vela
                  (coisa que não faltava na caverna de Polly).

                         Estava  muito  escuro  e  empoeirado.  Iam  pisando  de  viga  em  viga,
                  sem  dizer  palavra,  exceto  quando  cochichavam  um  para  o  outro:  “Já
                  devemos  estar  na  metade  do  caminho”  –  ou  coisa  parecida.  Ninguém
                  tropeçou. As chamas das velas agüentaram firme.

                         Por fim descobriram uma portinha encaixada na parede de tijolos, à
                  direita. Não havia maçaneta desse lado, mas havia um pegador, como se vê
                  às  vezes  na  parte  interna  da  porta  de  um  armário.  –  Abro?  –  perguntou
                  Digory.

                         – Se você topar, eu topo – respondeu Polly.
                         A coisa estava começando a ficar séria, mas ninguém ia dar para trás.
                  Digory  empurrou  o  pegador  com  dificuldade.  A  porta  abriu-se  toda  e  a
                  súbita luz do dia doeu-lhes nos olhos. Então, com grande espanto, viram
                  que  estavam  olhando  não  para  um  sótão  vazio,  mas  para  um  quarto

                  mobiliado.
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