Page 28 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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com seu sobrenome, segundo ele, o nome “Tarântula” faz alusão
aos gigantescos braços característicos da espécie. O objetivo era
agir com “braços longos”, atingindo o maior número de ruas e
avenidas onde era praticado o “trottoir indecente”.
De fato, a Tarântula foi bastante efetiva. Apenas no primeiro dia
de existência foram detidas 56 travestis, mas as prisões arbitrárias
e truculentas acenderam um alerta à grupos de defesa LGBT que
emergiam à época. Esses grupos enviaram diversas notas de repú-
dio à Secretaria Estadual de Segurança Pública, denunciando os
casos, ocasionando na suspensão da Operação em 10 de março
de 1987, onze dias após a sua criação. Ainda que pareça pouco,
foi tempo suficiente para realizar cerca de 300 prisões a travestis
e mulheres trans, segundo registos.
Ao jornal Folha de S. Paulo, o delegado-chefe Marcio Prudente
Cruz, revela o bom resultado das primeiras horas da operação,
mas diz que o objetivo da Tarântula é apenas “espantar a fregue-
sia”. A mídia reforçava o debate da época, que invisibilizava o
contágio entre a população heterossexual, e associava a epidemia
apenas à LGBTs, tudo isso ligado a um cunho bastante religioso:
segundo Cruz, em sua entrevista, a chegada da AIDS sinalizava
o período pré-apocalíptico.
Quem estava nas ruas do centro de São Paulo trabalhando como
“olheira”, vivendo e vendo a Operação Tarântula chegar, era Neon
Cunha, hoje com 50 anos e reconhecida como um marco na luta
de mulheres transexuais por ser a primeira a conseguir na justiça a
alteração do seu nome nos registros civis, sem precisar passar por
um doloroso processo de identificação de patologia para conseguir
a troca. Caso a justiça não acatasse seu pedido, Neon solicitou a
sua morte assistida. “Poderia ter me tornado um cadáver, mas me
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