Page 29 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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tornei Neon Cunha”. O relato a seguir mostra a realidade de quem
viveu na pele todo o período que durou muito mais do que os 11
dias da Operação Tarântula.
NO RASTRO DA
INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
“Eu sou a terceira filha de dez irmãos, é a típica história de uma
família muito pobre vinda do norte de Minas Gerais, mais preci-
samente do município de Rio Vermelho. Nós nos mudamos para
São Bernardo do Campo, em São Paulo, nos anos de 1970, com
meu pai conseguindo uma vaga na Volkswagen. Meus anos de
infância eram de pobreza extrema, isso por uma falta de planeja-
mento familiar mesmo; em pouco tempo foram 10 filhos, mas meus
pais se recusavam a dizer que morávamos numa favela, mesmo
morando em uma. São Bernardo era uma cidade ainda em desen-
volvimento e tinha todo o estereótipo de pobreza da época: a áurea
mística de benzedeiras e curandeiras vindas do norte e nordeste
do país, todo mundo se conhecia e era muito próximo. Ser criada
dentro desse processo de candomblé, umbanda e igreja católica
foi extremamente importante na minha construção”.
“ Seria impossível ser quem eu sou
hoje, se não fosse pela minha mãe. ”
“Foi aos dois anos e meio que eu disse pela primeira vez à minha
mãe “sou uma menina”. Imagina você dizer isso em uma época
onde não se discutia isso no Brasil, um período extremamente
misógino onde o menor traço de feminilidade era denunciado.
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