Page 31 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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A exemplo disso eu lembro de minha mãe, que era obrigada a
nos colocar em uma linha de produtividade, então ela garantia
os materiais de estudo do filho mais velho primeiro, depois do
segundo, depois eu.... Sendo assim, tudo chegava em mim muito
atrasado, eu tinha que decorar muita coisa por não ter o livro de
apoio. Quando eu tinha 12 anos, passei a estudar a noite e encon-
trei uma professora que me deu aula anos antes. Ela me disse: ‘Você
é aquela criança que estudava sem livros, não é? Eu me lembro de
você, você era muito esforçado’. Hoje eu me questiono: por que a
violação da dignidade era exaltada? Por que a violação do direito
básico ao ensino deve ser exaltada?
Eu fui trabalhar muito cedo, não porque isso dignificava, mas
por uma questão de sobrevivência mesmo. Aos 12 anos, eu vou
cobrir as férias do meu irmão na biblioteca da prefeitura de São
Bernardo do Campo e sou classificada como muito educada. Por
isso, em 1982, eu vou trabalhar no gabinete do prefeito. Ali eu já
tive um contato mais próximo com o que acontecia na época. Era
o auge de um Lula emergente, que era muito próximo do prefeito
Tito Costa, então eu vi toda a construção dessa política emba-
tiva à ditadura”.
O PRIMEIRO CONTATO COM O
CENTRO DE SÃO PAULO
“Ainda aos 12 anos eu vou pela primeira vez para o centro de São
Paulo, levada pelo meu amigo Alexandre. Ele era muito precoce,
iniciou a vida sexual muito cedo, saía bastante, então me levou
a uma boate na Augusta, aquele foi um momento que mistu-
rava fascínio e medo. Aos 14, eu começo a frequentar o centro
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