Page 34 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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maluca com isso, aos 13 anos eu tinha lido Nietzsche... obvia-
mente não entendi nada.
Muito cedo eu vi o mesmo mundo de duas óticas diferentes: se
por um lado eu estava nas ruas, por outro eu observava a movimen-
tação política de dentro do gabinete do prefeito e eu posso te dizer
que ela sempre foi pautada a partir do privilegio; a nossa política
é construída a partir do processo de exclusão e marginalização”.
AS RUAS DA OPERAÇÃO TARÂNTULA
“O jornal publicou o que a polícia permitiu que ele publicasse.
Para você ter uma noção de como tudo acontecia de fato, eu vou
te narrar três episódios que presenciei, mas antes é importante
pontuar que a Tarântula foi a mais famosa operação por causa da
notoriedade, mas no mesmo período aconteceram outras como a
Riqueti, Rondão e Arrastão, todas conhecidas como ‘Operações
de Limpeza’. Essas operações tomam força em 1968 com a vinda
da Rainha Elizabeth II à São Paulo, o governo faz literalmente a
limpeza da cidade para inglês ver. Isso virou um hábito, quase que
uma tradição na capital. Todas essas limpezas eram articuladas e
realizadas por meio de muita truculência da polícia.
O primeiro episódio aconteceu ali na Rua Santa Isabel, naquele
dia eu fiquei na esquina de baixo, no cruzamento com a Rua Bento
Freitas. Eu estava conversando com umas conhecidas e o cambu-
rão desceu a rua e parou.... Eu consigo me lembrar nitidamente
da cor e do rosto do policial, que hoje com certeza já faleceu, pois
era um homem de meia idade. O policial desceu da ‘barca’ e deu
um tiro na testa da travesti negra que estava do meu lado, eu me
lembro de ver o corpo tombar e o policial dizer para a gente ‘o que
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