Page 35 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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é? Vocês nunca viram um melado escorrendo? Corre enquanto
vocês estão vivas’, e é o que a gente faz, corre mesmo. Mas, no
dia seguinte, a vida tem que voltar. Era um sábado e no domingo
eu ainda fui na matinê da Nostromondo, e, na segunda-feira eu
voltei para a esquina. A gente tinha que ficar ali invisível, silen-
ciosa, fingindo que nada aconteceu.
A outra situação aconteceu ali na Vila Buarque, onde hoje é a
‘hipsterlândia’, cheia da mocidade que diz que começou a se preo-
cupar com a população que está ali há muito tempo, mas quantas
transexuais moram na região, ou quantas pessoas se relacionam
com trans ou travestis? Galera desapegada não sei do que, enfim...
tudo aconteceu ali perto da praça onde é o largo Santa Cecilia.
Eu estava com as manas num momento tranquilo, pois existiam
os lugares para o oficio mesmo e lugares onde as pessoas se diver-
tiam sem visar o lucro, mas naquele dia tinham também pessoas
que estavam trabalhando porque tudo acontecia ao mesmo tempo.
Eu estava conversando com o grupo das tops, quando de repente
surgiu um camburão em uma ponta da rua e outro em outra ponta,
um terceiro veio não sei de onde. Os policiais descem e fazem o
paredão na calçada, eles colocam os cassetetes próximos ao chão
e sobem batendo nas pernas das pessoas. Ninguém podia gritar,
senão era pior, você só ouvia o barulho dos cassetetes batendo nos
ossos. Existiam algumas tops que não passavam por isso, porque
saíam com alguns policias da ROTA e isso lhes garantia alguma
segurança, mas a um custo muito alto.
O terceiro episódio aconteceu um pouco mais tarde. Eu frequen-
tava a Val Improviso, que era uma boate ali bem próximo ao
Minhocão e ao lado tinha um beco onde moravam várias travestis
e mulheres trans, esse beco existe até hoje. Os policiais entraram
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