Page 32 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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da cidade pelo menos uma ou duas vezes no mês, eu estava lá e
sempre acompanhada de Alexandre. Nossa amizade começa a
diminuir quando ele inicia uma dependência química muito forte e
eu coloco a nossa relação como condição para ele parar, mas ele já
não entendia.... Havia entrado no caminho da morte pelo suicídio.
Eu volto a me aproximar do Alexandre anos mais tarde, quando
ele contrai HIV do namorado e reluta contra a doença. O Jesus
[namorado] era uma pessoa que eu gostava muito, naquele momento
ele se propõe a pagar psicólogo e acompanhamento ao Alexandre,
mas ele se recusava, sempre dizia que ‘se entrasse em um hospital,
era para nunca mais sair’. E é o que acontece, meu amigo falece
muito cedo, aos 25 anos. A história dele é a de mais um monte
que viveu a chegada da AIDS no Brasil”.
ESCAPISMO
“Eu não conheci a cidade de São Paulo na época apenas pela ótica
do submundo, mas eu vivi lugares que viraram grandes marcos na
história da cidade. Eu frequentava o Madame Satã e o Rose Bom
Bom, que são de uma cultura muito forte que permeia a época.
O cenário multicultural de São Paulo já efervescia na época com
a vida ‘underground’ que já pautava muitos assuntos. Quando
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Alex Vallauri pinta a Rainha do Frango Assado , nada mais é que
uma representação de uma travesti. Era fascinante ver um show
da Marcinha da Corinto ou da Léia, que era uma mulher preta
retinta, deficiente e que tinha um show arrasador onde dublava
Grace Jones na boate Nostromondo. Essa parte é muito impor-
tante de ser dita, pois era um escapismo em um período onde era
tudo muito pesado para todas nós”.
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