Page 133 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Era uma ampla faixa de terreno que ao primeiro olhar pareceria árida e
inóspita, mas que na verdade tinha a vantagem da irrigação constante e
natural de um grande braço de rio de degelo que a invadia periodicamente.
Durante a maior parte do ano, durante os meses de temperaturas baixas, o rio
crescia no leito original até se transformar, de manso fio d’água dos meses de
inverno, num manancial incrivelmente poderoso e cristalino durante a
primavera e o verão.
Este rio corria justo na divisa oeste da faixa de terra até desaguar num lago
majestoso com águas profundas que se multiplicavam em dezenas de
pequenos regatos a se infiltrarem pelo meio das poucas árvores altas e densas
como pequenas amostras de florestas tropicais, mas que ali tinham sua
exuberância reduzida à apenas uma larga e muito alta franja verde marcando
o limite do planalto e escondendo abismos imensos que recebiam as águas em
cachoeiras esplêndidas até sumirem quase magicamente, sugadas para rios
subterrâneos por onde continuariam seu caminho, desde as alturas das
montanhas andinas até os oceanos.
A extensão totalmente plana e a abundância de água limpa a fertilizarem suas
terras tornavam o lugar uma verdadeira preciosidade, mas naturalmente
protegida das multidões cobiçosas por sua incomum dificuldade de acesso.
E foi por este lugar, chamado pelos indígenas Mayuasiri Pacha, (terra do
canto meloso do rio), não maior do que setenta hectares ou três módulos
rurais, que Victor Gatopardo lutou durante trinta anos para dar o direito de
reconhecimento de posse ao povo Yana.
Os Yana eram um povo cuja história estava envolta nas lendas e no contar,
tanto quanto os famosos Astu Ninan que haviam sido os donos originais de
Mayuasiri Pacha.
Mas o verdadeiramente curioso sobre este povo é que os Yana não eram em
sua maioria nativos das montanhas e sua miscigenação indígena era pequena,
restrita aos primeiros poucos representantes que haviam surgido da união de