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Era  uma  ampla  faixa  de  terreno  que  ao  primeiro  olhar  pareceria  árida  e
                      inóspita,  mas  que  na  verdade  tinha  a  vantagem  da  irrigação  constante  e
                      natural de um grande braço de rio de degelo que a invadia periodicamente.
                      Durante a maior parte do ano, durante os meses de temperaturas baixas, o rio
                      crescia no leito original até se transformar, de manso fio d’água dos meses de
                      inverno,  num  manancial  incrivelmente  poderoso  e  cristalino  durante  a
                      primavera e o verão.


                      Este rio corria justo na divisa oeste da faixa de terra até desaguar num lago
                      majestoso  com  águas  profundas  que  se  multiplicavam  em  dezenas  de
                      pequenos regatos a se infiltrarem pelo meio das poucas árvores altas e densas
                      como  pequenas  amostras  de  florestas  tropicais,  mas  que  ali  tinham  sua
                      exuberância reduzida à apenas uma larga e muito alta franja verde marcando
                      o limite do planalto e escondendo abismos imensos que recebiam as águas em
                      cachoeiras esplêndidas até sumirem quase magicamente, sugadas para rios
                      subterrâneos  por  onde  continuariam  seu  caminho,  desde  as  alturas  das
                      montanhas andinas até os oceanos.

                      A extensão totalmente plana e a abundância de água limpa a fertilizarem suas
                      terras  tornavam  o  lugar  uma  verdadeira  preciosidade,  mas  naturalmente
                      protegida das multidões cobiçosas por sua incomum dificuldade de acesso.

                      E  foi  por  este  lugar,  chamado  pelos  indígenas Mayuasiri  Pacha,  (terra do
                      canto  meloso  do  rio),  não  maior  do  que  setenta  hectares  ou  três  módulos
                      rurais, que Victor Gatopardo lutou durante trinta anos para dar o direito de
                      reconhecimento de posse ao povo Yana.


                      Os Yana eram um povo cuja história estava envolta nas lendas e no contar,
                      tanto quanto os famosos Astu Ninan que haviam sido os donos originais de
                      Mayuasiri Pacha.

                      Mas o verdadeiramente curioso sobre este povo é que os Yana não eram em
                      sua maioria nativos das montanhas e sua miscigenação indígena era pequena,
                      restrita aos primeiros poucos representantes que haviam surgido da união de
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