Page 136 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
P. 136

os homens que podiam ter até quatro esposas e a obediência total ao chefe da
                      unidade familiar, com poder, inclusive, de punir suas mulheres e seus filhos
                      com a morte em caso de ofensa grave.


                      Tinham restrições alimentares severas e uma orientação muito rígida quanto
                      ao vestir, sendo obrigatório aos adultos permanecerem sempre com as cabeças
                      cobertas quando fora de casa e para as mulheres era lei o uso de longos véus
                      negros e muito fechados a partir dos sete anos.

                      As crianças, mantidas afastadas de qualquer contato com crianças de fora da
                      comunidade,  eram  ensinadas  segundo  a  interpretação  que  tinham  dos
                      costumes islâmicos e eram alfabetizadas através do estudo do corão. Mas o
                      acesso ao grupo nunca foi negado aos imigrantes que mostravam interesse em
                      juntar-se  à  comunidade,  ao  contrário,  aceitavam  em  seu  meio  qualquer
                      viajante que se dispusesse a adotar seus costumes e seu modo de vida.  Após
                      um  tempo  apropriado  de  treinamento  e  um  período  de  teste  e  rigorosa
                      avaliação,  que  podia  durar  alguns  meses  ou  até  vários  anos,  o  forasteiro
                      poderia ser aceito integralmente.

                      Tantas  diferenças  de  costumes  e  atitudes  causaram  desde  sempre  muitos
                      problemas e conflitos. Principalmente com o crescimento da comunidade em
                      número de pessoas e em poder econômico. Ficaram conhecidos pela produção
                      e  comercialização  de  um  tempero  que  preparavam  segundo  uma  fórmula
                      secreta herdada ao lendário Mouro, com o pó dos pistilos secos das flores do
                      açafrão  branco,  misturado a  uma  pasta  feita  da  raiz  de  uma  planta  rara,
                      chamada pelos nativos Ninasisanuna, espírito da flor de fogo, cuja forma de
                      cultivo também era mantida secreta, restrita a alguns poucos escolhidos.


                      A  tal  pasta,  de  cor  vermelha  escura  e  com  um  odor  bastante  penetrante,
                      levemente adocicado e com um sabor muito peculiar, diferente de tudo que se
                      conhecia, mas descrito como evocativo do sabor de ovas de sardinha torradas
                      e maceradas com manteiga e azeite de dendê, podia dar, à mistura com o
                      açafrão, propriedades alucinógenas fortíssimas, dependendo da quantidade
   131   132   133   134   135   136   137   138   139   140   141