Page 260 - As Viagens de Gulliver
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CAPÍTULO X
O autor parte da ilha de Luggnagg para se dirigir ao Japão, onde embarca em um
navio holandês — Chega a Amsterdam e daí passa para a Inglaterra.
S uponho que tudo o que tenho contado acerca dos struldbruggs não haja
enfastiado o leitor. Creio que não são coisas vulgares, gastas e batidas, que se
encontrem em todas as relações de viagens; pelo menos, posso assegurar que
nada achei de igual nas que li. Em todo o caso, se são coisas reditas e já
conhecidas, peço considerar que viajantes, sem se copiarem uns aos outros,
podem muito bem contar as mesmas coisas, quando visitam os mesmos países.
Como existe um grande comércio entre o reino de Luggnagg e o império
do Japão, é de crer que os autores japoneses não esquecessem de mencionar nos
seus livros os struldbruggs. Mas a permanência que fiz no Japão foi muito curta e,
por não possuir, além disto, tintura alguma da linguagem japonesa, não pude
saber ao certo se esse assunto fora tratado nos seus livros. Algum holandês
poderá talvez um dia dizer-nos o que há sobre tal assunto.
O rei de Luggnagg, tendo muitas vezes, embora inutilmente, insistido
comigo para ficar nos seus Estados, teve por fim a bondade de me conceder
liberdade para sair e fez até a honra de me dar uma carta de recomendação,
escrita por seu próprio punho, para Sua Majestade, o imperador do Japão. Ao
mesmo tempo presenteou-me com quatrocentas e quarenta e quatro peças de
ouro, de cinco mil quinhentas e cinco pérolas e de oitocentos e oitenta e oito mil,
cento e oitenta e oito grãos de uma espécie de arroz muito rara. Estas espécies de
números, que se multiplicam por dez, agradam muito ao povo desse país.