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DOMENICO LOSURDO, 1941-2018 | STEFANO AZZARÀ
universal de homem e que, mesmo no sofrimento do devir abstrato de
qualquer relação social ou simplesmente humana, conseguiu destilar
aquele progresso que consiste na superação dos vínculos de dependência
pessoal e direta do homem pelo homem, deixando atrás de si o feudalismo
e questionando a escravatura. Esta é a época que desenvolveu as forças
produtivas materiais integrais do gênero humano, atenuando a escassez
das necessidades, desenvolvendo também as subjetividades, gerando
uma ininterrupta circulação das ideias.
Não se voltará atrás. A crítica da modernidade, como compreensão
das suas condições de possibilidade e dos seus limites, portanto, é
possível apenas a partir do reconhecimento das suas conquistas. Da
herança, ou seja, dos pontos altos de uma tradição que certamente se
relaciona com o horror, mas que também é aquela civilização que, através
dos seus expoentes mais esclarecidos, soube ver esse horror e denunciá-
lo. Começando por estas contradições, mas também reconhecendo as
que acompanham a história do marxismo e do comunismo histórico,
é necessário empreender um percurso de aprendizagem que corte
definitivamente as pontes com o dogmatismo dos absolutos, sem, ao
mesmo tempo, ceder ao relativismo pós-modernista e à sua impotente
negação hermenêutica de qualquer objetividade, ou seja, da política e
da transformação do mundo.
Domenico Losurdo – ao qual devemos, entre outras coisas, a
inspiração inicial desta revista, e que presidia também à Comissão
Científica da Materialismo Storico – deixou-nos no momento mais
difícil, a saber no momento em que a crise da democracia moderna,
no Ocidente e no resto do mundo, parece apontar em direção a uma
inquietante redefinição das formas políticas, promovendo novas
modalidades de exclusão e discriminação, no interior de cada país e em
escala internacional. Numa época em que a recolonização do planeta,
que se expressa no vocabulário daquela Linguagem do império por ele
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tão acuradamente desconstruída e que seguiu a deslegitimação da
34 LOSURDO, 2007.
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