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DOMENICO LOSURDO, 1941-2018 | STEFANO AZZARÀ
a sua crise mais importante, talvez a última e conclusiva. Sua reflexão
sobre a tradição histórica e cultural do movimento operário ocorreu
no momento em que este movimento e seus aparelhos intelectuais se
encontravam já quebrados e a muitos parecia improdutivo, ou mesmo
sem sentido, aventurar-se por este caminho, isto é, na sequência da
derrota do sistema ocorrida no final dos anos 80 do século XX.
Losurdo percorreu este caminho em vários livros: Marx e o balanço
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histórico do Século XX ; Utopia e estado de exceção ; Antonio Gramsci: do
liberalismo ao “comunismo crítico” ; Fuga da história? ; A luta de classe ;
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e finalmente O marxismo ocidental – isto, sem elencar os seus ensaios
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avulsos. Percorreu este caminho, sobretudo evitando desculpas ou
o tom de autojustificação dos que, em grande número, explicam as
razões do fracasso culpando um único indivíduo (veja-se a este respeito
Stálin, história e crítica de uma lenda negra ) e optando, escandalosamente,
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por ir ao cerne do problema, partindo pedra sem piedade, ou seja,
evidenciando os limites internos do marxismo, sem poupar críticas aos
seus próprios fundadores.
Losurdo frisará várias vezes, perante o niilismo e a autofobia, que,
na sequência da queda da União Soviética, se tornaram dominantes na
esquerda e a tornavam não menos hostil às suas teses do que o campo
liberal; quanto à experiência do marxismo e do comunismo histórico,
transformou em profundidade os destinos do mundo, e do próprio
Ocidente capitalista, constrangendo-o a um percurso de democratização
que o obrigou até a acolher certos aspectos do programa do Manifesto
Comunista . Do mesmo modo, Losurdo não hesitava em refletir acerca
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das razões desta inequívoca derrota, cujas raízes teriam de ser procuradas
24 LOSURDO, 1993.
25 LOSURDO, 1996b.
26 LOSURDO, 1997b.
27 LOSURDO, 1999 a.
28 LOSURDO, 2013.
29 LOSURDO, 2017.
30 LOSURDO, 2008
31 Cf. LOSURDO, 1999b.
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