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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA
propaganda da Guerra Fria. Em 2007, Losurdo publicou um estudo em
que examina sistematicamente a manipulação semântica sobre a qual
repousa essa propaganda: A linguagem do império: léxico da ideologia esta-
dunidense, traduzido em 2010 pela Editora Boitempo. Foi também essa
editora que lançou, em junho de 2018, O marxismo ocidental: como nasceu,
como morreu, como pode renascer, ao qual nos referiremos mais adiante.
O objetivo central desta pequena coletânea, entretanto, é oferecer
ao leitor de língua portuguesa um esboço inicial da obra de Losurdo.
Manter viva sua presença política e intelectual é o recurso de que dis-
pomos para tentar preencher o claro que seu desaparecimento deixou
na inteligência comunista de nosso tempo. Recorremos, para tanto, em
primeiro lugar, à densa síntese político-filosófica Domenico Losurdo 1941-
2018, in memoriam, elaborada por Stefano Azzarà, que abre o nº 1/2018
de Materialismo Storico, a revista semestral de filosofia, história e ciências
humanas lançada por Losurdo e por ele em 2016, da qual desde o início
ele é o diretor científico.
Professor, como Losurdo, na Universidade de Urbino, e sobretu-
do plenamente identificado com o projeto intelectual de pensar critica-
mente nosso tempo, Azzarà não se limita a evocar a trajetória política
e intelectual do grande pensador golpeado pela morte na manhã de 28
de junho de 2018. Ele empenha-se em salientar as grandes linhas de
força de um pensamento que manteve unidas “a filosofia e a política
numa época que voltou as costas à revolução”. Com efeito, a convicção
de que a filosofia é, antes de mais nada, “o próprio tempo apreendi-
do no conceito” atravessa sua obra. Apoiando-se num conhecimento
aprofundado dos textos, ele impunha respeito mesmo aos adversários
ansiosos por encontrar brechas em sua argumentação. Bem antes de se
tornar um dos mais importantes autores marxistas de seu tempo, ele já
obtivera amplo reconhecimento acadêmico por seus estudos notáveis
sobre a conexão de filosofia e de história político-cultural alemã (Kant,
Fichte e principalmente Hegel), publicados entre 1983 e 1989. Ele pôs
em evidência as respostas filosóficas de cada um deles aos problemas
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