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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA


           capacidade crítica, atrofiando-se enquanto método de análise concreta .
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           Sem se confundir com o eurocomunismo, até por ser um movimento
           de ideias extrapartidário, o marxismo ocidental assumiu crescente in-
           diferença em relação à questão colonial. Foi esta, como notou Azzarà, a
           principal crítica que Losurdo dirigiu aos pensadores da vertente ociden-
           tocêntrica do marxismo.
                Essa crítica, com efeito, parece-nos pôr em evidência que na base
           do ocultamento da questão colonial está a supressão da questão nacio-
           nal. Foi o que Losurdo comprovou nas acuradas análises de Como nas-
           ceu e como morreu o “marxismo ocidental” . O título desse estudo remonta
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           ao balanço do marxismo e do comunismo feito por Merleau-Ponty nos
           primeiros anos da Guerra Fria. Ele constatava, de um lado, o desnível
           entre o programa máximo do comunismo (instaurar a sociedade sem
           classes e sem poder de Estado) e as bem mais limitadas perspectivas
           concretas do “marxismo ocidental”. De outro lado, ele reconhecia que
           para os marxistas orientais a prioridade era se empenharem a fundo na
           luta contra o colonialismo e no esforço de desenvolvimento das forças
           produtivas sociais. O filósofo francês não visava a valorizar um em de-
           trimento do outro, mas apenas a apontar os motivos do distanciamento
           entre os dois marxismos.
                O culto do marxismo ocidental começou mais tarde, com o livro
           que Perry Anderson lhe consagrou (Considerations on Western Marxism,
           1976), em que rejeitou em bloco não somente o marxismo e o comunis-
           mo soviético, mas também os demais partidos inspirados na Revolução

           3  Cabe, entretanto, reconhecer a alta qualidade técnica e acadêmica dos empreendimentos editoriais dos soviéticos
           e dos alemães da DDR, que ampliaram constantemente o acesso à obra dos grandes fundadores. Os maiores exem-
           plos remontam aos anos 1970: a publicação, pelo Editorial Progresso de Moscou, das obras de Lênin em 44 volumes
           e o lançamento, por iniciativa conjunta dos Institutos de Marxismo-Leninismo de Berlim e de Moscou, do projeto
           Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA), com o objetivo de levar a termo a publicação da produção completa de Karl
           Marx e Friedrich Engels.
           4  Publicado inicialmente em alemão, em 2008, com o título Wie der “westliche Marxismus” geboren wurde und
           gestorben ist, in: HAHN, Erich; HOLZ-MARKUN, Silvia (eds.). Die Lust am Widerspruch. Theorie der Dialektik-Dialektik der
           Theorie (Simpósio pelo 80º aniversário do filósofo marxista alemão Heinz Holz), Trafo: Berlin, 2008, p. 35-60. Versão
           italiana: Come nacque e come morì il “marxismo occidentale”, in: CINGOLI, Mario; MORFINO, Vittorio (eds.). Aspetti del
           pensiero di Marx e delle interpretazioni successive, Milão: Unicopli, 2011, p. 395-418. Tradução brasileira em Estudos de
           Sociologia, n. 30, 1º semestre de 2011, p. 213-242. Uma versão ampliada foi publicada em forma de livro (Il marxismo
           occidentale. Come nacque, come morì, come può rinascere, Roma-Bari, Laterza, 2017). Tradução brasileira: O marxismo
           ocidental. Como nasceu, como morreu, como pode renascer, São Paulo: Boitempo, 2018.


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