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ESTUDO INTRODUTÓRIO | JOÃO QUARTIM DE MORAES

avaliado considerando-se a palavra-chave do livro: a noção de imperia-
lismo não faz parte do vocabulário de Marx e de Engels. No entanto, ele
baseou rigorosamente a construção da nova teoria n’O Capital de Karl
Marx, desenvolvendo-a de modo a explicar os efeitos da concentração
monopolista da produção em escala mundial. Entre estes efeitos, foi de-
cisivo para a ultrapassagem do eurocentrismo o reconhecimento da ne-
cessidade histórica das guerras revolucionárias de libertação nacional.
Os bolcheviques triunfaram na Rússia porque também mobiliza-
ram os camponeses, livrando-os da hecatombe nas trincheiras da “Gran-
de Guerra” e da exploração dos grandes agrários. A aliança operário-cam-
ponesa, inovação heterodoxa relativamente à perspectiva da revolução
proletária internacional anunciada em 1848 no Manifesto, assegurou a
vitória da Revolução de Outubro de 1917. Ela confirmou a tese marxista
de que a classe operária é a principal força revolucionária de nossa época,
mas a confirmação não foi conceitualmente “pura”. Com sua extraordi-
nária capacidade de articular a análise das situações concretas à lógica
objetiva da luta política, Lênin compreendeu, antes de qualquer outro,
que a derrubada do czarismo pela revolução de fevereiro de 1917 insta-
lara na Rússia uma situação inédita de “dualidade do poder”: “ao lado
[...] do governo da burguesia, formou-se um outro governo [...], são os
sovietes dos deputados operários e soldados, o qual, considerado quanto
a sua composição de classe, é uma ditadura revolucionária do proletaria-
do e dos camponeses (sob o uniforme do soldado)” .
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Foi pela paz e pela terra – as duas grandes aspirações da massa
camponesa do povo russo, representada nos sovietes pelos camponeses
vestindo o uniforme do soldado – que os heróis de Outubro, seguindo
a palavra de ordem insurrecional “Todo poder aos sovietes”, levaram à
vitória a luta revolucionária contra a guerra imperialista. Em agosto/
setembro de 1917, às vésperas da revolução bolchevique, Lênin redigiu
O Estado e a Revolução. A dialética das duas categorias que formam o tí-
tulo desse célebre escrito expressa o confronto maior daquele momento

10 LÊNIN. Sur la dualité du pouvoir, in: Oeuvres, tome 24, Paris-Moscou Éditions Sociales/du Progrès, 1966, p. 28.

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