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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA


           ternacionais, é recorrente se apresentar o suposto antagonismo entre,
           de um lado, capacidade estatal e soberania e, de outro, a integração dos
           mercados em âmbito mundial e “globalização”. O resultado são visões
           maniqueístas estado-cêntricas ou transnacionalistas incapazes de com-
           preender a interação entre Estado e a internacionalização do capital no
           sistema internacional contemporâneo .
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                Nas formulações originais de Marx e Engels, não se encontram
           estudos específicos sobre a questão nacional, mas inúmeras referências
           que foram aparecendo ao longo de sua obra.  Mas o tema se torna cen-
           tral na virada dos séculos XIX e XX, causando profunda polêmica entre
           os marxistas da II Internacional Socialista, como Eduard Bernstein, Van
           Kol, Karl Kautsky, Rosa Luxemburgo, Otto Bauer, Lênin e Stálin. O de-
           bate acerca da questão nacional ganhou relevo em compasso com aque-
           les referentes ao desenvolvimento do imperialismo. Em outras palavras,
           a política imperial das potências e sua “missão civilizadora” (fardo do
           homem branco) forjava demandas opostas por lutas de libertação na-
           cional e por autodeterminação dos povos.
                Como destaca Visentini (2017b), a questão nacional transcende a
           definição do que é nação (etnia, língua e cultura), pois se relaciona com
           o Estado nacional, em suas diferentes formas, no tempo e no espaço e
           no quadro de forças do sistema internacional. Ou seja, a questão na-
           cional é um tema complexo porque se refere à análise sobre identidade
           nacional, nacionalismo, conformação de novos Estados-nação indepen-
           dentes, e sobretudo o papel desses arranjos políticos na luta por sobera-
           nia e desenvolvimento no quadro internacional marcado por profundas
           assimetrias. Com efeito, as nuances e contradições do tema se devem ao
           entendimento de que nem todos os movimentos de autodeterminação
           possuem o mesmo conteúdo progressista – estão por vezes a serviço das
           grandes potências e assumem formas xenófobas.
                Diante desse quadro, o objetivo do presente estudo é analisar a
           contribuição de Domenico Losurdo à questão nacional, à luz das polê-


           5  Desenvolvemos este debate em outra publicação. Para maiores detalhes, ver Pautasso e Fernandes (2017).

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