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MARXISMO E A QUESTÃO NACIONAL (...) | PAUTASSO - FERNANDES - DORIA
sob liderança dos Bolcheviques, também incluiu o direito à autodeter-
minação dos povos (CONNOR, 1984, p. 30; GALLISSOT, 1984, p. 217).
Enfim, conforme destacou Andreucci (1984, p. 261), “os socialistas eu-
ropeus que reivindicavam o marxismo eram todos – pelo menos até o
final do século [XIX] – firmes opositores da política colonial”.
Porém, uma mudança importante ocorreu em 1907 no Congres-
so em Stuttgart, na Alemanha. Nele, a maioria dos membros da comis-
são colonial entendeu que nem todas as políticas coloniais deveriam
ser rejeitadas; sob um regime socialista, algumas políticas poderiam
ter um efeito civilizatório, argumentavam seus defensores. Surgiu as-
sim um tipo de colonialismo conhecido como “positivo” ou “socialis-
ta”, supostamente humanizado sob a liderança de Eduard Bernstein e
Van Kol (FIORI, 2007, p. 65). Eduard Bernstein (apud KAUTSKY, 1975
[1907]) justificaria sua posição pelo colonialismo, lembrando o avan-
ço revolucionário do capitalismo através do rápido desenvolvimento
das forças produtivas, numa concepção associada a Marx e Engels e à
economia política em geral . Por essa razão, segundo Bernstein, os po-
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vos civilizados deveriam exercer uma tutela sobre os povos atrasados;
e os socialistas deveriam reconhecer tal fato e fugir da ideia utópica de
recusar as colônias, uma vez que isso dificultaria o desenvolvimento
econômico das regiões atrasadas. Nesse sentido, de acordo com a con-
cepção de Kol (IDEM, IBIDEM), se os Estados Unidos não tivessem
sido colonizados pelos ingleses, ainda estariam vivendo sob a cultura
atrasada dos indígenas.
A concepção de colonialismo positivo foi rejeitada pela maioria,
por 127 votos contra 108 (JOHNSTONE, 1988, p. 197). Segundo Kau-
tsky (IBIDEM), a política colonial se baseava na hipótese equivocada
de que somente os povos civilizados da Europa seriam capazes de um
desenvolvimento independente. E que essa política se converteria numa
necessidade da classe capitalista, assim como o militarismo. No entanto,
8 Segundo Adreucci (1984, p. 258), “O Capital de Marx foi considerado, sob este ponto de vista, a fonte principal de
onde se podia extrair as orientações de princípio, uma vez que da reflexão marxiana se conhecia, então, somente o
ponto de chegada, ao passo que se ignorava grande parte dos escritos – como os dedicados à Índia e à China – dos
anos 50 e 60”.
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