Page 64 - LOSURDO COMPLETO versão digital_Spread
P. 64
LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA
Essa visão estava de acordo com o ensaio de Stálin, O marxismo
e a questão nacional, escrito provavelmente sob a orientação de Lênin, e
que se tornou a formulação clássica bolchevique sobre o problema da
autodeterminação (KIERNAN, 1988, p. 276). O direito à autodetermi-
nação dos povos seria um elemento essencial para resolver a questão
nacional. Embora defendesse as lutas de libertação nacional como um
importante instrumento contra o imperialismo, Stálin (1953 [1913], p.
319) salientou que o nacionalismo não deveria ocultar a luta de classes,
nem serviria como propaganda para uma posição harmoniosa entre as
classes que o apelo à nação pode engendrar.
Rosa Luxemburgo, na sua luta incansável contra o nacionalismo
na Polônia, esqueceu o nacionalismo russo. O problema é que o nacio-
nalismo russo era mais terrível precisamente porque era menos burguês
e mais feudal, e porque representaria o principal obstáculo da luta prole-
tária e democrática, como apontou Lênin. E todo nacionalismo burguês
de uma nação oprimida teria um caráter democrático contra a opressão
e era este caráter que o proletariado deveria apoiar, sempre tendo em
vista seus interesses de classe (LÊNIN, 1979, p. 620).
No entanto, apoiar o direito à autodeterminação de maneira al-
guma significava fomentar o separatismo ou a qualquer divisão de Es-
tados segundo a vontade de determinados grupos. Lênin argumentou
que isso seria tão hipócrita como acusar os partidários da legalização do
divórcio de fomentar o fim dos vínculos familiares (IDEM, IBIDEM, p.
629). Ou seja, o direito à autodeterminação não resultaria na divisão
infinita dos Estados e recortes nacionais (microétnicos), tampouco em
rejeição aos Estados multinacionais.
Os interesses do proletariado e da sua luta contra o capitalismo
precisariam da solidariedade e da estreita unidade dos operários de to-
das as nações, como também do rechaço destes à política nacionalista da
burguesia de qualquer nação. Mas a negação ao direito à autodetermi-
nação significaria, na prática, o apoio aos privilégios da nação dominan-
te (IDEM. IBIDEM, p. 630-631). Os comunistas não poderiam ignorar
64