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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA


                Essa visão estava de acordo com o ensaio de Stálin, O marxismo
           e a questão nacional, escrito provavelmente sob a orientação de Lênin, e
           que se tornou a formulação clássica bolchevique sobre o problema da
           autodeterminação (KIERNAN, 1988, p. 276). O direito à autodetermi-
           nação dos povos seria um elemento essencial para resolver a questão
           nacional. Embora defendesse as lutas de libertação nacional como um
           importante instrumento contra o imperialismo, Stálin (1953 [1913], p.
           319) salientou que o nacionalismo não deveria ocultar a luta de classes,
           nem serviria como propaganda para uma posição harmoniosa entre as
           classes que o apelo à nação pode engendrar.
                Rosa Luxemburgo, na sua luta incansável contra o nacionalismo
           na Polônia, esqueceu o nacionalismo russo. O problema é que o nacio-
           nalismo russo era mais terrível precisamente porque era menos burguês
           e mais feudal, e porque representaria o principal obstáculo da luta prole-
           tária e democrática, como apontou Lênin. E todo nacionalismo burguês
           de uma nação oprimida teria um caráter democrático contra a opressão
           e era este caráter que o proletariado deveria apoiar, sempre tendo em
           vista seus interesses de classe (LÊNIN, 1979, p. 620).
                No entanto, apoiar o direito à autodeterminação de maneira al-
           guma significava fomentar o separatismo ou a qualquer divisão de Es-
           tados segundo a vontade de determinados grupos. Lênin argumentou
           que isso seria tão hipócrita como acusar os partidários da legalização do
           divórcio de fomentar o fim dos vínculos familiares (IDEM, IBIDEM, p.
           629). Ou seja, o direito à autodeterminação não resultaria na divisão
           infinita dos Estados e recortes nacionais (microétnicos), tampouco em
           rejeição aos Estados multinacionais.
                Os interesses do proletariado e da sua luta contra o capitalismo
           precisariam da solidariedade e da estreita unidade dos operários de to-
           das as nações, como também do rechaço destes à política nacionalista da
           burguesia de qualquer nação. Mas a negação ao direito à autodetermi-
           nação significaria, na prática, o apoio aos privilégios da nação dominan-
           te (IDEM. IBIDEM, p. 630-631). Os comunistas não poderiam ignorar



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