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MARXISMO E A QUESTÃO NACIONAL (...)  | PAUTASSO - FERNANDES - DORIA


               [1909]) enfatizou que o reconhecimento do direito à autodeterminação
               corresponderia à aprovação do nacionalismo burguês das nações opri-
               midas. Logo, “o ‘direito das nações à autodeterminação’ parece à pri-
               meira vista uma paráfrase da velha palavra de ordem do nacionalismo
               burguês de todos os países em todos os tempos: ‘o direito das nações à
               liberdade e à independência’”. Quanto ao segundo ponto, ela afirmou
               que a força interna do Império Russo não procederia da subjugação da
               Polônia, mas das relações sociais atrasadas dentro da própria Rússia,
               permitindo à nobreza obediência e recursos do campesinato. Em suma,
               para ela (IBIDEM), o “direito das nações» — que abarque todos os países
               e todos os tempos com idêntica justiça — não é outra coisa senão um
               clichê, uma frase metafísica, como seus análogos «direitos de homem»
               e «direitos do cidadão”. O materialismo dialético – fundamento do
               socialismo científico –  eliminaria  definitivamente de seu  vocabulário
               estes axiomas “eternos”.
                     Além disso, conforme Luxemburgo (IBIDEM), tentar resolver to-
               das as questões nacionais nos marcos do capitalismo por meio da garan-
               tia à “autodeterminação” de todas as nações, povos e tribos seria uma
               utopia. A solução da questão das nacionalidades, como dos demais pro-
               blemas sociais e políticos nos marcos do capitalismo, seria uma questão
               dos interesses de classe. E, após a Revolução Russa, ela (1999) alertou
               que a própria Rússia correria o risco de se desintegrar em razão da ban-
               deira pelo direito à autodeterminação levantada pelos bolcheviques.
                     Em suma, o movimento operário teve de lidar com cenários mais
               complexos do que aqueles formulados no Manifesto do Partido Comunis-
               ta em meados do século XIX (GALLISSOT, 1984, p. 226). As pressões
               nacionalistas e imperialistas ganharam novos contornos entre o final
               do século XIX e início do XX. Consequentemente, a questão nacional
               passou a se expressar de novas e diversas formas, como o problema das
               nacionalidades, a conformação de novos territórios nacionais, a inser-
               ção operária nos movimentos políticos nacionais, os impulsos belicistas-
               -colonialistas de diversas nações etc.



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