Page 127 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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inclinou-se para o lado contrário ao dela de forma que os seus corpos não se tocavam.
— Não fique assim bancando o rapazinho aborrecido, você gostou. Você foi até as nuvens.
Nino tomou um gole da bebida e respondeu na sua maneira espontânea natural.
— É o modo como isso sempre acontece. Você precisa ver quando estou excitado.
Ela sorriu e permaneceu quieta durante o resto do filme. Finalmente, terminou a exibição e
se acenderam as luzes. Nino deu uma olhada em volta. Pôde observar que tinha havido um
verdadeiro carnaval no escuro, embora, por estranho que pareça, ele não tivesse ouvido um ruído
sequer. Algumas das damas tinham aquele olhar fixo, brilhante, de mulheres que acabavam de
fazer uma coisa muito boa. Saíram lentamente da sala de projeção. Deanna Dunn largou-o logo
para ir falar com um homem mais velho que ele. Nino reconheceu-o como um famoso artista de
cinema, mas que só agora, vendo o cara em pessoa, percebeu que o tipo era veado. Tomou o
gole e ficou cismando.
Johnny Fontane aproximou-se e perguntou:
— Que tal, amigo velho, divertindo-se muito?
Nino arreganhou os dentes.
— Não sei. É diferente. Agora, quando voltar para o meu velho lugarejo, poderei dizer que
Deanna Dunn me possuiu.
— Ela pode fazer melhor do que isso se convidá-lo a ir à casa dela. Não convidou? —
perguntou Johnny, e deu uma gargalhada.
Nino balançou a cabeça.
— Fiquei muito interessado pelo filme — respondeu.
Agora, Johnny não riu.
— Leve a coisa a sério, garoto — disse ele. — Uma mulher como essa pode fazer muito por
você. Você esta acostumado a levar tudo na brincadeira. Homem, às vezes ainda tenho
pesadelos, quando me lembro daquelas donas feias que você gostava de apanhar.
Nino, um tanto bêbado, brandiu o copo e falou em voz bem alta:
— Sim, elas eram feias, mas eram mulheres.
Deanna Dunn, postada no canto, virou a cabeça para olhar para eles. Nino acenou-lhe com o
copo, cumprimentando-a.
Johnny Fontane deu um suspiro.
— Está bem, você é apenas um camponês carcamano.
— E não vou mudar — respondeu Nino com seu sorriso de bêbedo.
Johnny compreendia-o perfeitamente. Sabia que Nino não estava tão embriagado como
parecia. Sabia que ele estava apenas fingindo, para poder dizer coisas que achava rudes demais
para se dizerem ao seu novo padrone de Hollywood, quando sóbrio. Ele pôs o braço em volta do
pescoço de Nino e disse afetuosamente:
— Você, seu bêbedo sabido, sabe que tem um contrato rigoroso por um ano e pode dizer e
fazer o que quiser que não posso despedir você.
— Você não pode me despedir? — perguntou Nino com astúcia de pau d’água.
— Não — respondeu Johnny.
— Então foda-se — replicou Nino.
Por um momento, Johnny ficou surpreso e com raiva. Viu um riso de desprezo no rosto de
Nino. Nos últimos anos ele devia ter ficado mais esperto, ou a sua queda do estrelato tornou-o
mais sensível. Então compreendeu o amigo, por que o seu parceiro de canto da meninice jamais
conseguira êxito, por que ele estava procurando destruir qualquer oportunidade de êxito agora.
Nino estava reagindo contra todas as possibilidades de êxito, e ele, de alguma forma, se sentia
insultado pelo modo como Nina se estava comportando.
Johnny tomou-o pelo braço e levou-o para fora da casa. Nino agora mal podia andar. Johnny
falava com ele brandamente: