Page 130 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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novamente como profissional.
    Uma vez por semana, jantava com Ginny e as meninas. Não importava quão complicadas
  estivessem  as  coisas,  ele  nunca  faltava  a  esse  dever,  embora  não  dormisse  com  Ginny.
  Entrementes,  sua  segunda  mulher  conseguira  o  divórcio  no  México,  e,  assim,  estava  solteiro
  novamente.  Era  estranho  que  não  estivesse  tão  “seco”  para  apanhar  aquelas  estrelinhas  que
  cairiam facilmente na sua conversa. Ele estava muito esnobe. Ficara magoado, porque qualquer
  daquelas estrelas jovens que ainda estavam no apogeu jamais lhe dera a mínima bola. Mas era
  bom trabalhar com afinco. Quase toda noite ele ia para casa sozinho, punha seus velhos discos na
  vitrola,  tomava  a  sua  bebidazinha  e  cantarolava  um  pouco.  Ele  tinha  sido  bom,  muito  bom
  mesmo.  E  não  compreendera  como  tinha  sido  bom.  Mesmo  sem  levar  em  conta  a  sua  voz
  excepcional, que poderia ter acontecido a qualquer um, ele era bom. Fora um verdadeiro artista
  e nunca soube quanto gostava disso. Estragara a voz com bebida, fumo e mulheres, justamente
  quando veio a compreender quanto isso valia.
    Às  vezes,  Nino  vinha  tomar  um  trago  e  escutava  os  discos  em  sua  companhia,  e  Johnny
  dizia-lhe desdenhosamente:
    — Você, seu carcamano safado, jamais cantou assim em sua vida.
    E Nino lhe respondia com aquele riso curioso e encantador e balançava a cabeça dizendo:
    — Não, e jamais cantarei — pronunciando as palavras com uma voz complacente, como se
  adivinhasse o que Johnny estava pensando.
    Finalmente, uma semana antes de rodar o novo filme, chegou a noite da outorga do prêmio
  da Academia. Johnny convidou Nino para acompanhá-lo, mas Nino recusou. Johnny suplicou:
    —  Companheiro,  nunca  lhe  pedi  um  favor,  certo?  Faça-me  um  favor  esta  noite  e  venha
  comigo. Você é o único sujeito que vai sentir, realmente, se eu não ganhar.
    Por um momento, Nino ficou espantado. Depois respondeu:
    — Perfeitamente, meu velho, irei com você. — Fez uma pausa e acrescentou: — Se você
  não ganhar, esqueça o assunto. Fique tão embriagado o quanto você puder, que tomarei conta de
  você. Diabo, eu mesmo nem vou beber esta noite. Que tal, só por ser companheiro?
    — Homem respondeu Johnny Fontane — é ser mesmo muito companheiro.
    Na hora de ir para a cerimônia da Academia, Nino manteve a sua promessa. Compareceu à
  casa de Johnny completamente sóbrio, e os dois partiram juntos para o local da apresentação.
  Nino ignorava por que Johnny não convidara nenhuma de suas ex-garotas ou ex-esposas para o
  jantar daquela noite. Especialmente Ginny. Será que pensava que ela não torceria por ele? Nino
  desejaria tomar apenas um trago, parecia que ia ter uma noite horrivelmente longa.
    Nino Valenti achou toda a cerimônia da concessão do prêmio da Academia muito chata, até
  que foi anunciado o vencedor do melhor artista masculino. Quando ouviu as palavras “Johnny
  Fontane”, deu um pulo para cima e começou a aplaudir. Johnny estendeu a mão e Nino apertou-
  a. Sabia que o seu companheiro precisava do contato humano, de alguém em quem confiasse, e
  Nino sentia uma enorme tristeza pelo fato de Johnny não ter ninguém melhor do que ele para
  partilhar esse momento de glória.
    O  que  se  seguiu  foi  um  verdadeiro  pesadelo.  O  filme  de  Jack  Woltz  arrebatou  todos  os
  prêmios importantes e, assim, a festa do estúdio estava cheia de gente de jornal e de todos os
  futuros malandros do sexo masculino e feminino. Nino manteve a sua promessa de conservar-se
  sóbrio, e procurou vigiar Johnny. Mas as mulheres da festa insistiam em puxar Johnny Fontane
  para os quartos a fim de bater um papo e Johnny ficava cada vez mais bêbedo.
    Entrementes,  a  mulher  que  ganhara  o  prêmio  de  melhor  atriz  estava  sofrendo  o  mesmo
  destino, mas estava gostando mais disso e aproveitando mais a situação. Nino a rejeitou, o único
  homem da festa a fazer isso.
    Finalmente, alguém teve uma grande idéia. O acasalamento público dos dois vencedores,
  para que todos os presentes à festa assistissem ao espetáculo. A atriz foi desnudada e as outras
  mulheres começavam já a tirar a roupa de Johnny Fontane. Foi então que Nino, a única pessoa
  sóbria ali, agarrou o semivestido Johnny e jogou-o sobre o ombro, abrindo caminho para sair da
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