Page 125 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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idéia  surgira  do  espírito  prático  do  próprio  Jack  Woltz.  Algumas  das  suas  estrelas
  cinematográficas que eram atração de bilheteria estavam agora ficando velhas. Sem a ajuda de
  luzes especiais e de maquiladores geniais, elas mostrariam a idade que realmente tinham. Por
  isso,  surgiam  problemas.  Também,  até  certo  ponto,  tinham-se  dessensibilizado  física  e
  mentalmente.  Não  podiam  mais  “apaixonar-se”.  Não  podiam  mais  representar  o  papel  de
  mulheres perseguidas. Tinham sido muito arrogantes por causa do dinheiro, da fama e de sua,
  antiga  beleza.  Woltz  dava  essas  festas  a  fim  de  facilitar-lhes  arranjar  amantes,  homens  com
  quem dormir uma noite; se eles tivessem “peito”, poderiam transformar-se em companheiros
  permanentes  de  cama  e,  assim,  estaria  aberto  o  caminho  para  a  ascensão  Como  às  vezes  as
  reuniões se degeneravam em brigas ou excessos sexuais que envolviam complicações com a
  polícia,  Woltz  resolveu  promover  as  festas  na  casa  do  conselheiro  de  relações  públicas,  que
  estaria ali firme para ajeitar as coisas, dar “bola” aos homens da imprensa e da polícia e manter
  tudo em paz.
    Para certos atores jovens e másculos do estúdio, que ainda não haviam atingido o estrelato ou
  papéis de destaque, comparecer às festas das noites de sexta-feira nem sempre era um dever
  agradável. Isso se explicava pelo fato de que um novo filme ainda a ser distribuído seria exibido
  na  festa.  Na  verdade,  isso  era  a  desculpa  para  a  própria  realização  da  festa.  O  pessoal  dizia:
  “Vamos ver como está o novo filme feito assim e assado.” Desse modo, a coisa era apresentada
  sob um aspecto profissional.
    As  estrelas  jovens  eram  proibidas  de  comparecer  a  tais  reuniões.  Ou  antes,  eram
  desencorajadas a comparecer. A maioria seguia o conselho.
    A exibição dos filmes novos era realizada à meia-noite, e Johnny e Nino chegaram às onze
  horas.  Roy  McElroy  revelou-se,  à  primeira  vista,  um  homem  agradável,  bem  penteado,
  elegantemente vestido. Saudou Johnny Fontane com um grito de admiração e alegria.
    — Que diabo está você fazendo aqui — indagou com verdadeiro espanto.
    Johnny, apertando-lhe a mão, respondeu:
    — Estou mostrando a meu primo do interior os lugares pitorescos. Apresento-lhe Nino.
    McElroy apertou a mão de Nino e mediu-o dos pés à cabeça.
    — Elas o comerão vivo — comentou com Johnny, e os conduziu para o pátio dos fundos.
    O pátio dos fundos consistia em uma série de salas enormes, cujas portas de vidro abriam
  para um jardim e piscina. Havia quase cem pessoas espalhadas por ali, todas com bebidas na
  mão. A iluminação era engenhosamente preparada para realçar o rosto e a pele das mulheres.
  Eram as mulheres famosas que Nino vira nas telas dos cinemas escuros quando era adolescente.
  Elas tinham desempenhado seu papel nos seus sonhos eróticos da adolescência. Mas contemplá-
  las agora, em carne e osso, era como vê-las com uma maquilagem horrível. Nada podia lhes
  esconder o cansaço do espírito e da carne; o tempo destruíra-lhes a divindade. Embora posassem
  e se movimentassem com o encanto de que ele ainda se lembrava, pareciam, agora, frutas de
  cera. Nino tomou duas doses de bebida, aproximando-se de uma mesa que tinha uma porção de
  garrafas. Johnny acompanhou-o. Beberam juntos, até que por trás deles se ouviu a voz mágica
  de Deanna Dunn.
    Nino, como milhões de outros homens, tinha essa voz sempre gravada na mente. Deanna
  Dunn ganhara dois prêmios da Academia, trabalhara no filme de maior sucesso de Hollywood.
  Na tela, possuía um encanto feminino felino que a tornava irresistível a todos os homens. Mas as
  palavras que ela pronunciava jamais tinham sido ouvidas no cinema.
    — Johnny, seu patife, tive de ir ao psiquiatra novamente, porque você dormiu comigo uma
  noite. Como é que você nunca mais voltou, nem por alguns segundos?
    Johnny deu-lhe um beijo na face que ela lhe oferecia.
    — Você me deixou esgotado por um mês — respondeu ele. — Quero-lhe apresentar meu
  primo Nino. Um belo e forte rapaz italiano. Talvez ele possa acompanhar você.
    Deanna Dunn voltou-se para lançar um olhar frio para Nino.
    — Ele gosta de assistir a pré.estréias?
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