Page 129 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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proveito da situação e deu-lhe um bom contrato.
— Espero que você desse jeito me poupe mais grana — falou ao homem com franqueza.
Ficou surpreso, quando o produtor executivo veio dizer-lhe que o representante do sindicato
estava exigindo uma “gratificação” de cinqüenta mil dólares. Havia uma série de problemas a
respeito de extraordinários e contratos de pessoal, de forma que os cinqüenta mil dólares seriam
bem gastos. Johnny perguntou-se se o produtor executivo o estava pressionando e arrematou:
— Mande o cara do sindicato falar comigo.
O cara do sindicato era Billy Goff. Johnny disse a ele:
— Pensei que esse negócio do sindicato era arranjado pelos amigos. Disseram-me para não
me preocupar com isso, de modo algum.
Goff perguntou:
— Quem lhe disse isso?
— Você sabe muito bem — respondeu Johnny. — Não revelarei o nome dele, mas quando
esse indivíduo me diz uma coisa acredito piamente.
— As coisas estão mudadas — retrucou Goff. — Seu amigo está em situação difícil e a
palavra dele não tem mais valor aqui na Califórnia.
Johnny deu de ombros.
— Venha falar comigo daqui a alguns dias. Está bem?
Goff sorriu.
— Perfeitamente, Johnny. Mas telefonar para Nova York não vai lhe ajudar coisa alguma.
Telefonar para Nova York na verdade ajudou. Johnny falou com Hagen em seu escritório.
Hagen disse-lhe rudemente para não pagar.
— Seu Padrinho vai ficar danado da vida, se você pagar um níquel a esse salafrário — falou
ele a Johnny. — Isso fará Don Corleone perder prestígio e, no momento, ele não pode admitir tal
coisa.
— Posso falar com Don Corleone? — perguntou Johnny. — Você fala com ele? Preciso
rodar o filme.
— Ninguém pode falar com Don Corleone no momento — disse Hagen. — Ele está muito
doente. Vou dizer a Sonny para arranjar a coisa. Po rém, a decisão deve basear-se nisso. Não
pague um níquel a esse espertalhão safado. Se houver alguma mudança, avisa-lo-ei.
Aborrecido, Johnny desligou o telefone. Uma complicação com o sindicato poderia
aumentar uma fortuna no custo da produção do filme e prejudicar o trabalho de modo geral. Por
um momento, pensou em passar os cinqüenta mil dólares para Goff, na surdina. Afinal, Don
Corleone dizer-lhe alguma coisa e Hagen dar-lhe ordens eram duas coisas diferentes. Contudo,
resolveu esperar alguns dias.
Com a espera, ele poupou cinqüenta mil dólares. Duas noites depois, Goff foi encontrado
morto a tiros em sua casa, em Glendale. Não se falou mais em complicação com o sindicato.
Johnny ficou um tanto abalado com o assassinato. Era a primeira vez que o comprido braço de
Don Corleone dava um golpe mortal tão perto dele.
A medida que as semanas passavam e ele se ocupava cada vez mais com a preparação do
roteiro, com a escolha do elenco do filme e com os detalhes da produção Johnny Fontane se
esquecia de sua voz, de que não podia cantar. Contudo, quando surgiu a lista de nomes ao prêmio
da Academia e viu o seu entre os candidatos, ficou deprimido, porque não o escolheram para
cantar uma das melodias indicadas para o Oscar na cerimônia que seria televisada para toda a
nação. Todavia, conformou-se e continuou trabalhando. Não tinha esperança de ganhar o prêmio
da Academia, agora que seu Padrinho não era mais capaz de exercer pressão, mas ser indicado
como candidato já era alguma coisa.
O disco de canções italianas que ele e Nino gravaram estava sendo vendido muito mais do
que qualquer outra coisa que ele tinha gravado ultimamente, apesar de reconhecer que o sucesso
era mais de Nino do que seu. Resignou-se então à idéia de que jamais seria capaz de cantar