Page 124 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Quando chegaram à canção-desafio que terminava o disco, Johnny soltou a voz, e quando
acabaram, as cordas vocais doíam-lhe. Os músicos se empolgaram com a canção final, coisa
rara com esses veteranos calejados. Baixavam o som dos instrumentos e batiam com os pés
aprovando, parecendo aplaudir. O homem da bateria deu-lhes um rufar.
Com interrupções e trocas de idéias, trabalharam quase quatro horas antes de pararem.
Eddie Neils aproximou-se de Johnny e disse tranqüilamente:
— Você se saiu muito bem, menino. Talvez esteja disposto a gravar um disco. Tenho uma
canção nova que lhe vem a calhar.
Johnny balançou a cabeça.
— Deixe disso, Eddie, não me goze. Além do mais, dentro de poucas horas estarei tão rouco
que não serei capaz de falar. Você acha que temos de consertar muito o que fizemos hoje?
Eddie respondeu com ar pensativo:
— Nino terá de vir ao estúdio amanhã. Cometeu alguns erros. Mas é muito melhor do que eu
pensava. Quanto à sua parte, vou fazer os engenheiros de som ajeitarem o que eu não gostar.
Está bem?
— Está bem — respondeu Johnny. — Quando poderei ouvir a prensagem?
— Amanhã à noite — retrucou Eddie Neils. — Em sua casa.
— Sim — respondeu Johnny. — Obrigado, Eddie. Até amanhã.
Johnny tomou Nino pelo braço e retirou-se do estúdio. Foram para a casa dele e não para a
de Ginny.
Nessa altura, quase anoitecia. Nino estava meio embriagado, Johnny aconselhou-o a tomar
um banho de chuveiro e tirar uma soneca. Teriam de ir a uma grande festa às onze horas da
noite.
Quando Nino acordou, Johnny instruiu-o.
— Essa festa é no Clube dos Corações Solitários das Estrelas de Cinema. As mulheres ali
presentes são as senhoras que você já viu no cinema como rainhas da beleza e do encanto; por
elas milhões de sujeitos seriam capazes de oferecer o braço direito, só pelo prazer de dar-lhes
uma trepada. E o que as leva a comparecer à festa desta noite é que precisam achar alguém
com quem dormir. Você sabe por quê? Porque estão ansiosas por isso, pois sentem-se um pouca
velhas. E, como qualquer senhora de respeito, elas agem com um pouco de classe.
— Que é que há com sua voz? — perguntou Nino.
Johnny falava quase sussurrando.
— Sempre que eu canto um pouco, acontece isso. Agora não poderei cantar por um mês.
Mas ficarei bom da rouquidão em poucos dias.
— É duro, hem? — interrogou Nino pensativo.
Johnny deu de ombros.
— Escute, Nino, não se embriague muito esta noite. Você precisa mostrar a essas mulheres
que meu camarada paisan não é um moleirão. Você tem de colaborar. Lembre-se de que
algumas dessas senhoras são muito poderosas no cinema e podem arranjar trabalho para você.
Não é difícil ser encantador depois de se conquistar uma pessoa.
Nino já enchia seu copo, de novo.
— Sou sempre encantador — atalhou. Em seguida, esvaziou o copo. — Fora de brincadeira,
você pode, de fato, me aproximar de Deanna Dunn? — indagou rindo a Johnny.
— Não fique tão ansioso — disse Johnny. — Não vai ser como você pensa.
O Clube dos Corações Solitários das Estrelas de Cinema de Hollywood (assim chamado
principalmente pelos jovens adolescentes cuja freqüência era obrigatória) reunia-se toda sexta-
feira à noite na suntuosa residência de propriedade do estúdio, de Roy McElroy, agente de
publicidade — ou melhor, conselheiro de relações públicas — da Companhia Cinematográfica
Internacional Woltz. Na verdade, embora fosse uma festa sem convites especiais de McElroy, a