Page 126 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Johnny deu uma gargalhada.
— Acho que ele ainda não teve oportunidade. Por que você não o inicia nisso?
Nino teve de tomar uma dose dupla de bebida, quando ficou a sós com Deanna Dunn. Tentou
manter-se imperturbável, mas era difícil. Deanna Dunn tinha o nariz arrebitado, as feições
clássicas, de contornos nítidos, de beldade anglo-saxã. E ele a conhecia tão bem. Ele a vira
sozinha num quarto, desesperada, chorando pelo falecido marido aviador que a deixou com
crianças órfãs do pai. Ele a vira zangada, magoada, humilhada, mas ainda com uma dignidade
impressionante, quando um grosseiro Clark Gable abusou dela, depois deixou-a por uma mulher
sensual. (Deanna Dunn nunca desempenhou o papel de mulher sensual no cinema.) Ele a vira
corar com um amor correspondido, contorcendo-se no abraço do homem que ela adorava, e
morrer de uma maneira maravilhosa, pelo menos uma meia dúzia de vezes. Ele a vira, ouvira e
sonhara com ela e, contudo, não estava preparado para a primeira coisa que ela lhe disse, quando
ficaram a sós.
— Jolwny é um dos poucos homens de colhão dessa cidade — disse ela. — O resto são todos
uns veados e débeis mentais, incapazes de trepar com uma mulher nem que se metesse uma
tonelada de hormônios nos seus testículos.
Ela tomou Nino pela mão e conduziu-o para um canto da sala, longe do movimento e de
qualquer concorrência.
Depois, ainda friamente encantadora, fez algumas perguntas a respeito dele. Nino começou
a estudá-la interiormente. Percebeu que ela estava desempenhando o papel da mocinha da alta
sociedade que é gentil para o cavalariço ou o motorista mas que no filme faria perder todo o
interesse amoroso (se o papel fosse desempenhado por Spencer Tracy), ou abandonaria tudo em
seu louco desejo por ele (se o papel fosse desempenhado por Clark Gable). Mas isso não
importava. Principiou a contar-lhe como ele e Johnny tinham crescido juntos em Nova York,
como ambos costumavam cantar em festas de clubes pequenos. Achou-a maravilhosamente
atenta e interessada. Em um momento, perguntou casualmente:
— Você sabe como Johnny fez esse patife do Jack Woltz dar-lhe o papel?
Nino ficou gelado e balançou a cabeça. Ela não insistiu.
Chegara a hora de assistir-se à pré-estréia do novo filme de Woltz. Deanna Dunn conduziu
Nino. Sua mão apertando com firmeza a dele, encaminhou-o para uma sala interna da mansão
que não tinha janelas, e estava mobiliada com cerca de 50 sofás pequenos para duas pessoas,
espalhados e um pouco afastados uns dos outros.
Nino observou uma pequena mesa ao lado do sofá e, sobre ela, havia um balde com gelo,
copos e garrafas de bebida e uma bandeja de cigarros. Ofereceu um cigarro a Deanna Dunn,
acendeu-o e depois preparou bebida para ambos. Não conversaram. Após alguns minutos as
luzes se apagaram.
Nino esperava algo inominável. Afinal, sempre ouvira as histórias sobre a depravação em
Hollywood. Não estava bem preparado para o ataque voraz de Deanna Dunn ao seu órgão sexual
sem uma palavra gentil e amável de preparação. Continuou a tomar sua bebida e a olhar para o
filme, sem interesse e sem prestar atenção. Estava emocionado como nunca; em parte, devido
ao fato de que aquela mulher que o estava “servindo” no escuro tinha sido o objeto de seus
sonhos de adolescente.
Contudo, de certo modo, aquilo era um insulto à sua masculinidade. Assim, quando a
mundialmente famosa Deanna Dunn estava saciada e arrumou a roupa dele Nino friamente
preparou uma nova bebida para ela e acendeu lhe um novo cigarro e disse com a voz mais
descansada que se possa imaginar
— Isso parece ser um filme muito bom.
Ele a sentiu empertigar se ao seu lado no sofá Será que ela estava esperando alguma espécie
de cortesia? Nino encheu o seu copo com a bebida da garrafa que estava ao alcance de sua mão.
O diabo com isso. Ela o tratara co mo um detestável prostituto Por algum motivo Nino agora
sentia uma raiva fria de todas essas mulheres. Olharam o filme por mais quinze minutos. Ele