Page 123 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 13
    JOHNNY FONTANE, sentado em seu enorme estúdio de gravação, calculava custos num
  bloco amarelo. Músicos entravam em fila na sala. Todos eram amigos que ele conhecera quando
  era  menino  e  cantava  com  as  bandas.  O  maestro,  homem  importante  no  negócio  de
  acompanhamento de música popular e que fora bondoso para ele quando as coisas estiveram
  pretas, distribuía para cada músico um monte de partituras e instruções verbais. Seu nome era
  Eddie Neils. E aceitara o encargo dessa gravação como um favor a Johnny, embora quase não
  dispusesse de tempo para isso.
    Nino Valenti estava sentado ao piano, brincando nervosamente com as teclas, e bebia o seu
  uísque  em  um  copo  grande.  Johnny  não  ligava  para  isso.  Sabia  que  Nino  cantava  bem,  tanto
  bêbedo quanto sóbrio, e o que eles estavam fazendo hoje não exigia realmente qualquer aptidão
  musical da parte de Nino.
    Eddie Neils fizera uns arranjos especiais de algumas antigas canções italianas e sicilianas, e
  um trabalho especial sobre a canção-desafio que Nino e Johnny haviam cantado no casamento
  de Connie Corleone. Johnny estava gravando o disco em primeiro lugar, porque sabia que Don
  Corleone  gostava  de  tais  canções  e  isso  constituiria  um  ótimo  presente  de  Natal  para  ele.
  Também tinha o palpite de que o disco seria vendido aos montes, embora talvez não chegasse a
  um  milhão.  Além  disso,  pensava  que  ajudar  a  Nino  seria  a  melhor  recompensa  que  Don
  Corleone podia querer. Afinal de contas, Nino também era um dos afilhados de Don Corleone.
    Johnny colocou o bloco amarelo na cadeira dobradiça que estava a seu lado, levantou-se e
  postou-se junto ao piano.
    — Escute, paisan — falou ele.
    Nino olhou-o, com ar de riso. Parecia estar adoentado. Johnny inclinou-se e esfregou-lhe as
  omoplatas.
    — Calma, rapaz — disse. — Trabalhe direitinho hoje e eu lhe arranjarei uma trepada com
  uma das mulheres mais famosas de Hollywood.
    Nino tomou um gole de uísque e perguntou:
    — Quem é ela.. . Lassie?
    Johnny deu uma gargalhada.
    — Não, Deanna Dunn. Garanto o material.
    Nino ficou impressionado, mas não pôde deixar de dizer com uma falsa esperança:
    — Você não pode conseguir a Lassie para mim?
    A  orquestra  irrompeu  com  a  canção  de  abertura  da  miscelânea.  Johnny  Fontane  ouvia
  atentamente. Eddie Neils tocaria todas as canções nos seus arranjos especiais. Depois, se faria a
  primeira  gravação  do  disco.  A  proporção  que  ouvia,  Johnny  ensaiava  as  notas  mentalmente,
  entoaria exatamente cada frase e entraria em cada canção. Sabia que sua voz não agüentaria
  muito, mas Nino se encarregaria da maior parte do canto; Johnny cantaria em segundo pIano.
  Exceto, naturalmente, na canção-desafio. Teria de se poupar para isso.
    Puxou Nino para perto de si, e ambos se postaram ante os microfones. Nino desafinou na
  abertura e mais adiante. Começou a ficar vermelho e desconcertado. Johnny falou em tom de
  pilhéria:
    — Que é isso, você está fazendo cera para ganhar extraordinário?
    — Não me sinto à vontade sem o meu bandolim — respondeu Nino.
    Johnny refletiu por um momento.
    — Segure este copo com bebida — disse ele.
    Parece que surtiu efeito. Nino continuou bebendo, enquanto cantava, e se saía bem. Johnny
  cantava com facilidade, sem esforço, com a voz floreada em torno da melodia principal entoada
  por Nino. Não havia qualquer satisfação emocional nessa espécie de canto, mas ficou admirado
  com a sua própria habilidade técnica. Dez anos de vocalização ensinaram-lhe alguma coisa.
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