Page 118 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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levá-lo pessoalmente de carro ao aeroporto provava isso. Cortesia pessoal, algo em que o próprio
Don Corleone sempre acreditava. E as desculpas que ele apresentara tinham sido sinceras. Ele
conhecia Johnny há muito tempo e sabia que as desculpas não tinham sido originadas do medo.
Johnny sempre tivera “tutano”. Esse o motivo por que ele sempre encontrara dificuldades, com
os seus superiores no cinema e com as mulheres. Ele também era uma das poucas pessoas que
não tinham medo de Don Corleone. Ele e Michael eram talvez os dois únicos homens de quem
Hagen sabia que se podia dizer isso. Assim as suas desculpas foram sinceras, ele as aceitaria
como tal. Hagen e Johnny teriam de ver-se bastante um ao outro nos próximos anos. E Johnny
teria de passar pelo teste seguinte, o que provaria quão esperto ele era. Teria de fazer algo para
Don Corleone que este jamais pediria que ele fizesse ou insistisse para fazer como parte do
acordo. Hagen tinha dúvida sobre se Johnny Fontane era bastante esperto para compreender essa
parte da transação.
Depois que Johnny deixou Hagen no aeroporto (Hagen insistiu para que Johnny não o
acompanhasse até o avião), voltou para a casa de Virginia. Ela ficou surpresa ao vê-lo de volta.
Mas ele queria ficar na casa dela a fim de ter tempo para pensar nas coisas e poder traçar seus
planos. Johnny sabia que o que Hagen lhe dissera era extremamente importante, que toda a sua
vida estava sendo modificada. Tinha sido outrora um grande artista, mas agora com a idade de
trinta e cinco anos ele estava liquidado. Não se enganava a respeito daquilo. Mesmo que ganhasse
o prêmio como melhor ator, que diabo poderia significar para ele na melhor das hipóteses? Nada,
se não recuperasse a voz. Seria um artista de segunda classe, sem qualquer poder real, sem
qualquer substância. Mesmo aquela garota que o havia rejeitado fora delicada e habilidosa e
agira com certa esperteza, mas teria sido tão fria se ele realmente estivesse no auge? Agora com
Don Corleone fornecendo-lhe a grana ele poderia ser grande como qualquer pessoa em
Hollywood. Poderia ser rei. Johnny sorriu. Ele poderia ser até um Don.
Seria interessante morar com Ginny novamente por algumas semanas, talvez por mais
tempo. Levaria as meninas a passear todo o dia, talvez tivesse mais alguns amigos. Pararia de
beber e de fumar, realmente cuidaria de si mesmo. Talvez sua voz se tornasse forte novamente.
Se isso acontecesse, e com o dinheiro de Don Corleone, ele seria invencível. Estaria realmente
tão perto de ser um rei ou imperador antigo como era possível na América. E não dependeria
mais de ter voz ou de até quando o público gostava dele como artista. Seria um império baseado
no dinheiro e o tipo mais especial, mais cobiçado de poder.
Virginia preparou o quarto de hóspedes para ele. Ficou estabelecido que Johnny não usaria o
quarto dela, que não viveriam como marido e mulher. Não poderiam ter essa relação nunca
mais. E embora o mundo exterior dos colunistas mexeriqueiros e fãs do cinema pusessem a
culpa do fracasso do seu casamento exclusivamente nele, de maneira curiosa, entre os dois,
ambos sabiam que fora ela a maior causadora do divórcio.
Quando Johnny Fontane se tornou o mais popular cantor e artista de comédias musicais do
cinema, nunca lhe ocorreu abandonar a mulher e as filhas. Ele era demasiadamente italiano,
demasiadamente antiquado. Naturalmente tinha sido infiel. Isso era impossível evitar em sua
profissão, dadas as tentações a que era continuamente exposto. E apesar de ser um sujeito magro
de aparência delicada, tinha a paixão inesgotável de muitos tipos latinos franzinos. E as mulheres
o deleitavam com suas surpresas. Johnny gostava de sair com uma garota de aparência virginal,
meiga e recatada e descobrir-lhe os seios para vê-los tão inesperadamente cheios e exuberantes,
libidinosamente provocantes em contraste com o rosto de camafeu. Ele gostava de constatar
acanhamento e timidez nas garotas de aspecto sensual que tinham movimentos simulados como
jogadores de basquetebol, seduzindo como se já tivessem deitado com uma centena de homens,
e então quando ele ficava a sós com elas tinha de lutar durante horas para levá-las até a cama a
fim de fazer o serviço e finalmente verificar que eram virgens.
E todos aqueles caras de Hollywood zombavam de sua preferência por virgens. Diziam que
isso era um velho gosto carcamano, indiscutível, que quase sempre levava um tempo enorme
para fazer uma virgem dar-lhe uma chupada com todas as conseqüências e que depois,
geralmente, acabava sendo uma péssima trepada. Porém Johnny sabia que tudo dependia de